Por: Jorge Eduardo Magalhães
Depois de sete anos de casamento, nosso relacionamento estava indo por água abaixo. Minha esposa era bem-sucedida no ramo de empreendimentos e eu um jornalista desempregado – que só conseguia um ou outro trabalho temporário. Ela praticamente era quem sustentava a casa.
À medida em que ela crescia em sua carreira e eu ficava mais por baixo, fomos nos distanciando. Éramos praticamente dois estranhos, que viviam na mesma casa, quase não conversávamos e, diversas vezes, quando eu me deitava e a esperava na cama, percebia que estava fazendo hora na sala. Ao acariciá-la na cama, sempre fingia estar dormindo.
Nesse tempo, observei que ela começou a se arrumar, a se perfumar mais do que o comum e a frequentar mais a academia. Percebi que logo a perderia, se não fosse para outro homem, seria para o meu próprio fracasso. Precisava dar um jeito naquela situação, era necessário virar o jogo.
Imaginei que a sua gravidez fosse nos reaproximar, pois acreditava que um filho pudesse unir o casal. Anunciou-me a gravidez sem muito entusiasmo, e estava recente, a barriga ainda não havia aparecido. Comecei a pensar no enxoval do nosso filho que viria em breve, mas não tinha dinheiro para comprar nada. Precisava mudar a minha vida, dar orgulho para o nosso filho.
Foi durante este período que vi um anúncio da venda dos direitos do antigo jornal Patrulha Carioca e achei um projeto interessante. Entretanto, embora o valor fosse acessível, não tinha o dinheiro. Não era muito, mas ela me daria o dinheiro e seria minha tentativa de virada.
Esperei que ela chegasse e falei sobre o assunto. Após tomar um demorado banho, sentou-se trajando um roupão e começou a ler O Castelo, de Franz Kafka, seu autor predileto.
– Eu não vou financiar mais uma dessas loucuras! – ela disse.
– Mas este jornal tinha muita saída, vai ser um sucesso, pode ter certeza.
– Ter certeza igual ao site sobre esportes ou aquela revista eletrônica sobre política que eu financiei? – argumentou com sarcasmo.
Senti-me o último dos homens quando ela jogou na cara meus antigos projetos malsucedidos.
– Todo mundo comete erros e insucessos.
– A questão é que você comete demais.
– Preciso mudar a vida, o nosso filho está vindo.
– Nosso? – deu uma gargalhada cruel.
– Como assim?
– Quem disse que é nosso?
– E não é?
– Somente meu. Quer dizer, somente meu não, só que não é teu.
Fiquei sem chão ao ouvir aquelas palavras. Ela continuou falando, sem tirar os olhos do livro:
– E quero o divórcio, pois não aguento mais olhar para você.
Amava-a muito para perdê-la para outro.
– Se não vai ser minha, não vai ser de ninguém! – disse para mim mesmo.
E, em um ato de desespero, agarrei o seu pescoço e só larguei quando estava totalmente inerte, com O Castelo ao seu lado.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Começo intenso e intrigante !👏👏👏👏👏
Meu Amigo!!
Fiquei preso.
Só não pensei que fosse terminar assim.
Você me pegou nessa!
Parabéns pela trama!!!