Em momentos de crise climática, as classes mais altas seguem sem sofrer grandes impactos enquanto populações mais vulneráveis perdem suas casas, vidas e até precisam migrar de seus territórios. Nesse cenário existe um conceito que nos ajuda a explicar essa desigualdade.
O termo “racismo ambiental” surgiu nos anos 1980, o conceito ganhou destaque durante os protestos contra depósitos de resíduos tóxicos no estado da Carolina do Norte (EUA), onde a maioria da população era negra.
O racismo ambiental refere-se às injustiças ambientais que afetam desproporcionalmente comunidades racializadas e marginalizadas. Essas populações enfrentam maiores riscos e impactos adversos em situações de desastres climáticos devido a uma combinação de fatores históricos, sociais e econômicos.
No cenário urbano de uma grande cidade, onde arranha-céus se erguem majestosos e o concreto domina a paisagem, uma realidade se revela aos olhos atentos: o racismo ambiental. Esse fenômeno, muitas vezes invisível aos olhos desatentos, é uma manifestação da desigualdade social que se reflete no acesso desigual aos recursos naturais e na distribuição injusta dos impactos ambientais.
Nas áreas periféricas e nas comunidades marginalizadas, onde a população majoritariamente negra e pobre reside, os efeitos do racismo ambiental são mais pronunciados e devastadores. A falta de infraestrutura básica, como saneamento, coleta de lixo e áreas verdes, torna essas comunidades mais vulneráveis aos impactos da poluição, das enchentes e das doenças relacionadas ao meio ambiente.
Enquanto isso, nos bairros nobres e nas áreas mais valorizadas da cidade, onde a população branca e de classe alta predomina, os parques são exuberantes, o ar é mais puro e as ruas são mais arborizadas. A discrepância entre a qualidade ambiental dessas áreas e das comunidades periféricas é gritante, revelando a segregação espacial e social que permeia nossa sociedade.
O racismo ambiental também se manifesta nas indústrias poluentes e nos empreendimentos de grande porte, que frequentemente são implantados nas proximidades das comunidades mais vulneráveis, sem consulta ou consentimento prévio. Os impactos dessas atividades, como a contaminação do ar e da água, afetam de forma desproporcional a saúde e o bem-estar das populações locais, agravando as desigualdades já existentes.
O combate ao racismo ambiental requer uma mudança profunda em nossas estruturas sociais e políticas, que reconheça a interseccionalidade das questões raciais, sociais e ambientais. É preciso promover a equidade no acesso aos recursos naturais e na distribuição dos impactos ambientais, garantindo que todas as comunidades, independentemente de sua cor ou condição social, tenham direito a viver em um ambiente saudável e seguro.
Ainda precisamos avançar, e muito, no que diz a representação de pessoas historicamente marginalizadas em processos decisórios políticos e de planejamento urbano. Essa falta de voz significa que suas necessidades e preocupações não são priorizadas na formulação de políticas ambientais. Consequentemente, essas comunidades são menos protegidas contra os impactos de desastres climáticos e menos beneficiadas por iniciativas de adaptação e mitigação.
Territórios indígenas e tradicionais sofrem exploração por indústrias extrativistas, mineração, agropecuária, entre outras. A falta de políticas de demarcação eficazes junto à aprovação de projetos de lei que flexibilizam a legislação ambiental ou ações como o “marco temporal”, facilitam a apropriação e degradação dessas terras. Isso não apenas ameaça a biodiversidade, mas também expõe estas comunidades a maiores riscos de desastres ambientais e perda de território.
O clima mudou, e nós também precisamos mudar
É urgente a necessidade de mudança! O racismo ambiental é uma realidade que amplifica os impactos dos desastres climáticos sobre as populações vulneráveis. Mas, como combater o racismo ambiental?
Compreender essa desigualdade é o primeiro passo para implementar políticas justas e eficazes. Desempenhar um papel crucial na mitigação desses impactos, promovendo a educação, o empoderamento e o desenvolvimento sustentável nas comunidades afetadas.
Também é preciso lembrar que o enfrentamento ao racismo ambiental vai além da solidariedade. As ações de combate devem ser constantes e estruturais. Isso inclui a responsabilidade de votar estrategicamente em políticos que levem a sério a pauta ambiental e estejam comprometidos em representar as comunidades mais vulneráveis. Esses líderes precisam adotar políticas que garantam a justiça climática, promovendo a igualdade no acesso a recursos e a proteção contra os desastres climáticos.
A ação política é uma das ferramentas mais poderosas para provocar mudanças significativas e duradouras.
O desafio é grande, mas a esperança é a força que impulsiona a luta contra o racismo ambiental, rumo a um futuro mais justo, mais inclusivo e mais sustentável para todos os habitantes do nosso planeta. Que cada um de nós se una a essa causa, em solidariedade e em compromisso com a construção de um mundo onde a igualdade e o respeito à diversidade sejam os pilares de uma convivência mais harmônica e mais humana.
Denílson Costa