Em meio às águas revoltas do oceano, a história dos navios negreiros se desenrolava em um cenário de dor e sofrimento. Os corpos acorrentados, os olhos vazios, as vozes sufocadas pelo medo e pela angústia. A bordo dessas embarcações macabras, homens, mulheres e crianças eram arrancados de suas terras, de suas culturas, de suas vidas, para serem escravizados em terras distantes.
Entre as muitas práticas desumanas e cruéis que marcaram esse período sombrio da história, uma em especial ecoa como um grito de resistência e dignidade. O “pau de comer”, uma espécie de colher improvisada, era utilizado para alimentar os africanos capturados que se recusavam a se alimentar durante a travessia da África para o Brasil. Esses homens e mulheres, arrancados de seus lares e de suas famílias, preferiam a morte à escravidão, e iniciavam greves de fome como forma de resistência e protesto contra a brutalidade de seu destino.
O “pau de comer” tornou-se um símbolo de uma resistência silenciosa, mas poderosa, que ecoava nos porões dos navios negreiros, nas mentes e nos corações daqueles que enfrentavam a desumanidade com coragem e dignidade. Através desse objeto simples, que se tornou um instrumento de sobrevivência e de autonomia, os cativos encontravam uma forma de manter sua dignidade e sua força interior, mesmo diante das circunstâncias mais adversas.
Enquanto a comida era jogada através do “pau de comer” na boca daqueles que resistiam, a esperança também era alimentada, a chama da liberdade continuava acesa, por mais tênue que fosse. Esses homens e mulheres, aprisionados fisicamente, mas livres em seus espíritos indomáveis, mantinham viva a chama da resistência, da dignidade e do desejo por um futuro melhor.
Hoje, diante dessa história de dor e de luta, lembramos do “pau de comer” como um símbolo da resistência e da resiliência dos povos africanos que enfrentaram a escravidão com coragem e dignidade. Que essa memória nos inspire a reconhecer e a combater as injustiças e as desigualdades que ainda persistem em nossa sociedade, em busca de um mundo mais justo, mais humano e mais igualitário.
A influência africana no Brasil ocorre através de diversos aspectos hoje comuns à nossa cultura, tais como: a língua, a culinária, as danças, as músicas, algumas religiões e demais costumes dos diversos grupos vindos do continente africano. Os negros escravizados eram forçados a trabalhar para os senhores de engenho, obrigados a abandonar suas crenças e hábitos culturais e encaravam uma realidade dura. Na culinária, as negras preparavam a feijoada, utilizavam o azeite de dendê, e até a colher de pau foi introduzida como um instrumento.
“Pau” é um substantivo utilizado em algumas expressões brasileiras, e tem sua origem nos navios negreiros. Muitos negros capturados preferiam morrer a serem escravizados e, durante a travessia da África para o Brasil, faziam greve de fome. Para resolver a situação, foi criado então o “pau de comer”, uma espécie de colher que era enfiada na boca dessas pessoas aprisionadas por onde se jogava a comida. (normalmente angu e sopa) até alimentá-los enfim. A população incorporou a expressão.
No período sombrio da escravidão,
A dor e o sofrimento eram a condição.
Homens e mulheres, vendidos como mercadoria,
Açoitados, humilhados, em meio à agonia.
A dar com pau era o castigo cruel, imposto aos cativos, sem dó nem mel.
Denilson Costa