A herança sanitária, SOS pardais

A herança sanitária colonial como é sabido, a escravização e a matança iniciadas com a captura ou desocupação de terras, contribuíram o que a historiografia chama de catástrofe demográfica da população. Os índios foram vítimas de sarampo, varíola, rubéola, escarlatina, tuberculose, febre tifoide, malária, disenteria e gripe, trazidas pelos colonizadores europeus, doenças para as quais não tinham defesa genética.

As condições de saúde da população negra eram igualmente deploráveis. Embora houvesse uma multiplicidade de situações e atividades exercidas pelo escravo africano, bem como formas de tratamento recebido por parte dos senhores, os negros que prestavam serviço na terra trabalhavam quase sem descanso, sempre mantidos com muito açoite e, em geral, mal alimentados. O regime de trabalho nas minas era totalmente diverso daquele que se observava nos engenhos de açúcar.

A ancilostomíase, conhecida como opilação, as doenças de carência, como o escorbuto, ou infecciosas, como a tuberculose e a malária, não chegavam a distinguir a população de escravos negros do restante da população de mestiços, brancos pobres e cafuzos que viviam na base da pirâmide social. Está claro que barnabés, mascates, artesãos, oficiais mecânicos, carreiros, feitores, capangas, soldados de baixa patente, mendigos e pobres sitiantes não viviam em condições muito melhores que algumas categorias de escravos e se distanciavam muito da elite branca.

A Igreja católica era o suporte da vida cultural da colônia e as ordens religiosas constituíam a ponta de lança da Igreja na propagação da fé e da cultura cristã.

Para o cristão, o bem-estar físico era secundário face à salvação espiritual. Além do mais, a doença podia ser percebida alternativamente como uma expressão do pecado ou da graça divina. O corpo, concebido como o repositório da alma imortal, permaneceu como um legítimo objeto de cuidado.

Os ensinamentos bíblicos e o exemplo de Jesus apontavam a devoção aos doentes como uma benção divina, não restrita apenas a praticantes treinados. A fé cristã enfatizava que o cuidado e a cura deveriam ser uma vocação popular, um ato de humildade consciente, portanto, um componente vital da caritas cristã. Nas procissões organizadas pelas confrarias, nas igrejas ou no refúgio do lar, orações e preces solicitavam a intervenção dos santos. Cada qual segundo sua especialidade.

São Sebastião era invocado para proteger das epidemias, entendemos que o saneamento básico começa em São Sebastião do Rio de Janeiro, Santa Lúcia, contra as dores de dentes. Contra a peste e quebradura, Santo Adrião.

As reformas urbanas na capital federal, foram iniciativas da administração municipal de Pereira Passos, que com o regime republicano consolidado, queria apagar as marcas dos períodos colonial e imperial na cidade. As ruas estreitas e lotadas de pessoas, vendedores ambulantes dos mais variados produtos, com casebres e cortiços de arquitetura colonial ditos insalubres e com grande quantidade de epidemias, deixavam a elite brasileira preocupada, principalmente com a interrupção do comércio realizado no porto.

A abertura de uma grande avenida a Belle Epoque (boulevard), a destruição de cortiços, proibição de pequenos hábitos de comportamento característicos da população, bem como vacinação obrigatória foram alguns dos pontos principais da reforma urbanística e sanitarista, sempre no intuito de passar uma borracha no visual da cidade e “limpar” as ruas e a população mais pobre. O porto do Rio, sobrecarregado por conta do excesso de exportações do café e com as importações de artigos de luxo da burguesia brasileira, passou por grande reforma, dentro e no seu entorno. Estas reformas foram claramente inspiradas na reforma do barão Haussmann em Paris, que ocorreu em meados do século XIX, quando a capital parisiense passou por transformações semelhantes. O pardal, pássaro muito comum nos parques parisienses, foi então trazido para o Brasil, para completar a questão do embelezamento da cidade, com o típico pássaro estrangeiro adornando os jardins (europeizados) do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Quem nunca viu pardais comendo as migalhas e farelos de pão?

Será que estamos preparados para o combater a dengue!?

Convidem, os pardais!

 

Denilson Costa

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