Corcunda, leque, samba, marimbondo, moleque, carimbo, cachimbo e várias outras…Palavras que fazem parte do nosso cotidiano, mas que frequentemente passam despercebidas em sua origem. Cada uma delas carrega consigo um pedaço de uma história rica e complexa, uma herança africana que, por muito tempo, foi menosprezada e ignorada, especialmente pelo meio acadêmico. Essa herança, que se enraíza nas culturas banto, é um testemunho vivo da resistência e da resiliência de um povo que, apesar das adversidades, contribuiu profundamente para a formação da identidade brasileira.
Os bantos, um grupo étnico que se espalhou pela África Central e Ocidental, trouxeram consigo uma riqueza cultural que incluía não apenas a língua, mas também práticas religiosas, tradições artísticas e formas de organização social. Com a chegada dos colonizadores e a subsequente diáspora forçada, os conhecimentos e costumes bantos foram trazidos para o Brasil, onde se entrelaçaram com as culturas indígenas e europeias, criando um mosaico cultural único.
O samba, por exemplo, é uma das mais significativas expressões dessa fusão cultural. Nascido nas comunidades afro-brasileiras, especialmente nas favelas do Rio de Janeiro, o samba é um ritmo que ecoa a ancestralidade banto, com seus toques de percussão e suas danças envolventes. Essa manifestação artística não é apenas um gênero musical; é um grito de liberdade, uma afirmação de identidade que ressoa nas vozes de milhões. O carnaval, que celebra essa tradição, é uma explosão de cores e sons que nos lembra da força da cultura banto em nosso cotidiano.
Além do samba, a herança banto também se revela em práticas religiosas como o candomblé e a umbanda, que incorporam elementos das crenças africanas às tradições locais. A espiritualidade banto, rica em simbolismos e rituais, continua a ser uma fonte de força e resistência para muitas comunidades. As divindades, os orixás e os ancestrais são cultuados e reverenciados, mantendo viva a conexão com a África, mesmo em um contexto de diáspora.
As influências bantos não se limitam apenas à música e à religião; elas também se manifestam nas práticas sociais e políticas. A luta por direitos e reconhecimento das comunidades afrodescendentes no Brasil é um eco das tradições bantos de resistência e solidariedade. O movimento negro brasileiro, que busca a valorização da identidade e a luta contra a discriminação racial, é fortemente influenciado pelos princípios bantos de coletividade e justiça social.
No entanto, é crucial que reconheçamos e valorizemos essa herança. A história oficial muitas vezes silencia as contribuições africanas, relegando-as a um segundo plano. A educação e o conhecimento são ferramentas poderosas para reverter essa narrativa. É preciso que as escolas e universidades incluam a história africana em seus currículos, celebrando a riqueza cultural que essa herança traz.
Corcunda, leque, samba, marimbondo, moleque, carimbo, cachimbo. Cada uma dessas palavras é um lembrete de que a cultura banto está entrelaçada na nossa própria história. Precisamos olhar para essas raízes com respeito e admiração, reconhecendo que a diversidade cultural é uma das maiores riquezas do Brasil. A presença das culturas banto na formação do nosso país é um legado que deve ser celebrado, estudado e perpetuado, garantindo que as vozes do passado continuem a ecoar nas gerações futuras.
Denilson Costa