Abadá que durou 3 horas

“Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré

Todo o pessoal

Manda descer pra ver

Filhos de Gandhi

Iansã, Iemanjá, chama Xangô

Oxóssi também

Manda descer pra ver

Filhos de Gandhi

Mercador, Cavaleiro de Bagdá

Oh, Filho de Obá

Manda descer pra ver

Filhos de Gandhi”

Verdadeiro carnaval de sangue, a Revolta de Malês aconteceu em Salvador, no dia 25 de janeiro de 1835. Naquela época, Salvador era uma das principais cidades escravistas do Brasil. Os mobilizados rebelaram-se contra a imposição do catolicismo e tinham o objetivo de sair do bairro da Vitória até Itapagipe no trajeto para tomar engenhos e libertar outras pessoas escravizadas. Os participantes da Revolta dos Malês foram na sua maioria, da tribo nagôs. Boa parte dos envolvidos eram muçulmanos, mas muitos também eram adeptos de religiões de matriz africana, tendo seu envolvimento marcante, evidenciando assim o papel da religião na luta por transformação social.

A partir do século XIX, no Rio de Janeiro, a mistura com o som do maxixe e da polpa, outros ritmos da época, permitiu o surgimento das primeiras rodas de samba brasileiras, como o Lundu, que deram origem à base rítmica do maxixe, choro, bossa-nova.

O abadá de origem africana, do iorubá, foi trazida pelos negros malês para a Bahia. No tão esperado dia do levante, rebeldes saíram às ruas vestidos de abadá – uma espécie de camisolão folgado na cor branca. Por este motivo, as autoridades policiais costumavam se referir a bata islâmica como ‘’vestimenta de guerra’’ nos autos de devassa. Em tempos de paz, os malês procuravam usar os abadás em casa, em momentos de oração e outros ritos sagrados. Mas a indumentaria malê não estaria completa sem uma carapuça, algo semelhante a um turbante branco, cobrindo a cabeça. Hoje, o uso do abadá tornou-se característico do carnaval da Bahia. Já o gorro com faixa branca, é item obrigatório entre os componentes do bloco Filhos de Gandhy.  A influência do povo malê na cultura brasileira vai além, muito além do turbante do abadá.

 

Denilson Costa

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