Viver em tenda foi a solução encontrada pelos deslocados na Faixa de Gaza. Foto: Unrwa.

Ajuda humanitária na Faixa de Gaza é suspensa mais uma vez

Nova Iorque (EUA) – A Faixa de Gaza não está recebendo qualquer ajuda humanitária desde o início de operações militares israelenses na passagem de fronteira de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza.

O diretor de assuntos da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, afirmou em sua rede social nesta quarta-feira (08/05), que houve bombardeios na área durante todo o dia. Segundo Scott Anderson, nenhum combustível ou suprimento entrou no enclave, o que é “desastroso para a resposta humanitária”.

Passagem de Karem Shalom

A entrada de fronteira com o Egito e a passagem de Karem Shalom, na divisa com Israel, eram as principais formas de abastecer o enclave desde o início dos combates, em outubro de 2023.

Na terça-feira, o porta-voz do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Jens Laerke, explicou que Rafah, única passagem por onde entra combustível, está sob o controle das forças israelenses. Com operações militares e sem acesso, o representante do Ocha destacou que fica cada vez mais difícil evitar a fome no enclave e atender pacientes nos três hospitais funcionais de Rafah, que seguem sobrecarregados.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, com a escalada em Rafah, centenas de famílias com crianças começaram a fugir de suas casas e abrigos para lugares que poderiam ser mais seguros. A equipe do Unicef continua a atender às necessidades críticas das crianças na Faixa de Gaza, mas o acesso está se tornando cada vez mais difícil e perigoso.

Também em seu perfil nas redes sociais, o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, ressaltou que as equipes das Nações Unidas permanecem em Rafah, onde mais de 1 milhão de pessoas buscam abrigo, sendo 600 mil, crianças. Para ele, as decisões tomadas e suas consequências no “sofrimento humano” serão lembradas por gerações.

Deslocamento de Rafah

Segundo o Ocha, milhares de famílias palestinas iniciaram novas viagens de deslocamento de Rafah para as áreas centrais da Faixa de Gaza após as operações militares de Israel nas áreas orientais da cidade.

Ruas da área oeste do enclave ficaram lotadas com milhares de carros e caminhões transportando pessoas deslocadas e suas tendas para serem instaladas no centro da Faixa de Gaza, em meio a um estado de tensão e ansiedade vivido pelos residentes.

A Unrwa reforça que “nenhum lugar é seguro em Gaza”. As instalações da agência foram atacadas 368 vezes desde o início da guerra e pelo menos 429 pessoas deslocadas que estavam abrigadas nas estruturas da agência foram mortas.

O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazarini, publicou em sua rede social um vídeo em que mostra que a sede da agência em Jerusalém Oriental foi vítima de um protesto convocado por um membro eleito do município.

Para ele, os atos são de “assédio, intimidação, vandalismo e danos à propriedade da ONU” e ocorreram sob a vigilância da polícia israelense. Lazarini lembra que é esperado que os países anfitriões, neste caso Israel, “protejam as instalações, as operações e a equipe das Nações Unidas em todos os momentos”.

O chefe do Escritório de Direitos Humanos na Palestina, Ajith Sunghay, falou à ONU News sobre o aumento da violência na Cisjordânia ocupada. Ele afirmou que as Forças de Defesa Israelense “está agindo como se houvesse um conflito armado” na área.

Sunghay explicou que a forma como as forças israelenses estão conduzindo operações na região “são geralmente usadas em um conflito armado, não na aplicação da lei”.

Outro ponto de preocupação citado por ele são as restrições de movimento, prisões e detenções. Segundo Ajith Sunghay, as pessoas não podem se deslocar entre as cidades e comunidades dentro da Cisjordânia.

O representante da ONU afirma que isso teve um grande impacto na economia, nas estruturas familiares e na comunidade palestina em geral.

MSF

Ao mesmo tempo, a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) faz um apelo para que se proteja a população civil e seja reaberta a passagem fronteiriça de Rafah.

O fechamento deste ponto-chave de ingresso em Gaza coloca em risco a resposta humanitária, deixando as reservas de combustível, alimentos, medicamentos e água perigosamente baixas e a população encurralada em meio a novos combates.

“A passagem de Rafah, um ponto de acesso humanitário vital, foi fechada completamente até novo aviso. Isto terá um impacto devastador, já que a ajuda que chega por meio desta via é uma linha de vida para toda a Faixa de Gaza”, afirma Aurelie Godard, líder da equipe médica de MSF em Gaza.

“Depois de sete meses de guerra, obrigando 1,7 milhão de pessoas a fugir de suas casas, a decisão de fechar essa passagem agrava ainda mais as terríveis condições de vida das pessoas encurraladas em Gaza.”

Em 6 de maio, as forças israelenses ordenaram a 100 mil pessoas do leste de Rafah que evacuassem para Al Mawasi, uma região entre o oeste de Rafah e Khan Younis, onde os abrigos e recursos também são extremamente escassos. Rafah havia sido designada anteriormente pelas forças israelenses como uma zona segura para a população civil.

“Estas pessoas são novamente deslocadas à força, passando de tendas improvisadas para outro lugar sem abrigo adequado, alimentos, água ou atenção médica”, afirma Godard. “Elas correm o risco de mergulharem ainda mais em um enorme desastre humanitário que atingiu níveis de pesadelo.”

Cuidados de saúde

A ofensiva e a ordem de retirada reduzem ainda mais o acesso a cuidados de saúde em meio a um sistema de saúde destruído, deixando as pessoas quase sem opções até mesmo para cuidados médicos básicos.

No começo desta semana, o pessoal médico e os pacientes tiveram que ser evacuados do Hospital Al-Najjar, enquanto o Hospital Europeu de Gaza não é mais acessível. Nossas equipes começaram a dar alta para pacientes do Hospital de Campanha Indonésio de Rafah, onde apoiávamos a prestação de cuidados pós-operatórios, e suspendemos nossas atividades na Clínica Al-Shaboura até novo aviso.

“Ter que suspender atividades de um posto de saúde onde nossas equipes realizaram 8.269 consultas só em abril ou fizeram 344 curativos na semana passada é catastrófico”, afirma Paulo Milanesio, coordenador de emergência de MSF em Rafah.

“Onde vão buscar atendimento e continuar o tratamento as mulheres grávidas, as crianças, as pessoas com doenças crônicas em um lugar dizimado como Gaza? Sem esquecer do impacto na saúde mental; antes do fechamento oferecíamos mais de 130 consultas individuais de saúde mental por semana, e esta cifra só aumentou nas últimas semanas”, afirma Milanesio.

MSF também transferirá ao Ministério da Saúde suas atividades no Hospital Emirati e moverá o pessoal para o Hospital Nasser, para continuar dando apoio a serviços de maternidade em uma região mais segura.

“Com esta já chegam a 11 o número de instalações de saúde das quais tivemos de sair em Gaza em apenas sete meses, o que demonstra a brutalidade e o desrespeito a regras vigentes nesta guerra”, diz Milanesio.

Desde o início da guerra, MSF afirma ter observado um padrão de ataques sistemáticos contra instalações médicas e infraestrutura civil. O sistema de saúde de Gaza está sendo desmantelado justamente no momento em que as necessidades estão explodindo, com consequências devastadoras para a população palestina.

 

Com informações de ONU News / MSF

Wagner Sales – Editor de conteúdo

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