Assim como aquele conto do Manuel Bandeira

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Logo após nossa cerimônia de casamento, há quase um ano, ela fez um vídeo em suas redes sociais, trajando o seu vestido de noiva, dizendo, “Quem pegou, pegou, quem não pegou, não pega mais”. Prometeu que seria só minha para o resto da vida, mulher de um homem só.

Sempre fomos muito diferentes, ela saía para os bailes e eu ficava só em casa lendo, estudando. Diziam que ela teve muitos relacionamentos no bairro, inclusive com homens casados. De repente, começamos a namorar e ela prometeu mudar. Seu passado nunca importou para mim, o importante foi a partir do momento que ficamos juntos.

Logo nos casamos e estou muito feliz, embora as más línguas digam que ela não parou com suas saídas e me trai. Não acredito, realmente ela mudou, tenho convicção disso. Não a vejo fazer nada demais. Saio para trabalhar, ela está em casa, volto no final do dia e lá está a casa arrumada e o jantar pronto.

Briguei com amigos e familiares que fazem intrigas sobre o comportamento de minha mulher e maculam a sua reputação. Quase espanquei um primo meu, que disse que ela ficou nua o esperando em sua cama. Quanta calúnia em relação à minha esposa, só porque teve uma conduta não-apropriada no passado.

Talvez o nosso maior erro tenha sido morarmos no mesmo bairro em que fomos criados, deixando que todos se intrometessem na nossa vida. Seria melhor se fizesse como o Misael daquele conto do Manuel Bandeira, que mudava, constantemente, de bairro com a sua amada.

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