São Paulo (SP) – O Ministério Público Federal (MPF) denunciou uma cidadã brasileira residente em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, por recrutar pessoas para trabalhos forçados a uma organização criminosa transnacional especializada na aplicação de golpes cibernéticos. Ela aliciava as vítimas com falsas promessas de emprego na Tailândia e intermediava o envio das pessoas ao país asiático, de onde eram levadas ilegalmente a Mianmar, sede do centro de operações do grupo.
Esta é a segunda denúncia do MPF contra integrantes do esquema. Outro brasileiro já responde pelos delitos de tráfico de pessoas e participação em organização criminosa por recrutar compatriotas. Em junho de 2022, ele foi uma das três vítimas aliciadas pela mulher agora denunciada, mas, após vislumbrar a oportunidade de obter ganhos com o agenciamento de mão de obra, passou a atuar em parceria com ela na captação de novos trabalhadores. Mensagens trocadas entre os dois revelam a definição de detalhes para o envio de mais brasileiros ao país asiático.
Fraudes eletrônicas
Majoritariamente composta por chineses, a organização criminosa dedicava-se a fraudes eletrônicas contra estadunidenses. Brasileiros e pessoas de outras nacionalidades levados a trabalhar na rede criminosa ficavam encarregados do diálogo inicial com as vítimas dos golpes, estabelecendo contato por mensagem para obter dados pessoais e convencê-las a efetuar investimentos em ativos digitais. Bem sucedida essa primeira etapa, outros trabalhadores forçados cuidavam dos encaminhamentos até que os alvos do esquema fizessem aportes financeiros em uma plataforma falsa de criptomoedas.
Membros da organização criminosa recepcionavam os trabalhadores em Bangkok, na Tailândia, e cuidavam de todas as providências para o deslocamento até Mianmar, destino que as vítimas só descobriam ao chegar à capital tailandesa. O percurso por terra incluía a troca frequente de veículos e motoristas e o cruzamento ilegal da fronteira entre os dois países.
Em Mianmar, os trabalhadores eram submetidos a condições degradantes e estavam sob ameaça o tempo todo. Eles ficavam alojados na própria base de operações do grupo, um complexo com elevado grau de segurança que impedia eventuais fugas. Aqueles que tentassem escapar ou denunciar o esquema eram levados a um setor onde ficavam presos, eram torturados ou até mesmo mortos.
As jornadas chegavam a 14 horas de trabalho, cumpridas em período noturno e quase sem intervalos. Todos tinham metas obrigatórias a bater, e seu descumprimento gerava multas que diminuíam sensivelmente os salários. Isso, somado à aplicação de sanções arbitrárias e à necessidade de comprar produtos de higiene e alimentação superfaturados, acabava muitas vezes reduzindo os pagamentos a zero ou acarretando dívidas, o que reforçava o domínio dos criminosos sobre os trabalhadores.
Brasileiros vítimas da organização tiveram celulares confiscados após uma tentativa de contato com a representação diplomática do país. O resgate dos trabalhadores só foi possível após a intervenção do governo brasileiro e as investigações realizadas a partir de então.
Com informações de assessoria
Wagner Sales – Editor de conteúdo