Por: Jorge Eduardo Magalhães
Moro no último casebre do morro, de frente para o que ainda resta de mata. Nos fundos de minha morada funciona uma espécie de cemitério clandestino, somente que os futuros cadáveres chegam aqui ainda vivos e depois são executados e enterrados nas proximidades.
Constantemente, ouço os breves finados chorarem e implorarem para não serem executados, outros, não aguentando mais a tortura à qual são submetidos, pedem para serem logo mortos para cessar aquele terrível suplício. Esses demoram mais para serem eliminados.
Fiquei algum tempo sem ouvir os martírios; entretanto, na semana passada, ouvi uma voz feminina familiar. Foi a primeira vez que espiei a vítima com seus algozes através de uma fresta. Não podia acreditar, a menina mais bonita da comunidade, que fazia meu coração palpitar, cercada de algozes, com uma pá na mão, cavando um buraco.
Tentava argumentar alguma coisa com os elementos que a cercavam. Suspeitei que cavava a própria cova e, talvez, por ser bonita, não estava sendo torturada como as outras vítimas. Recordei das vezes que a via passar, e não podia ficar olhando, pois era mulher do chefe da comunidade, mas, mesmo assim, meu coração palpitava. Agora ela estava ali sendo subjugada por seres que outrora a ovacionaram.
Tive a impressão de que a pressão psicológica aumentava, parecia se dar conta de sua real situação. Preferi não ficar mais olhando. Ouvi seus gritos. Não teve tiros. Será que seria sepultada viva?
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Que terror!!!