Harris descreveu em detalhes “a terrível situação” no Hospital Al-Shifa, um foco de operações das Forças de Defesa de Israel. Foto: OMS

Chuva agrava crise aguda de saúde em Gaza

Nova Iorque – A Organização Mundial da Saúde, OMS, saudou nesta terça-feira (14/11) o que chamou de “esforços heroicos” da equipe do Hospital Al-Shifa sitiado na Cidade de Gaza. A agência expressou preocupação com centenas de milhares de pessoas deslocadas na região onde fortes chuvas causaram inundações e agravaram a crise aguda de saúde.

Em nota emitida, em Nova Iorque, o secretário-geral disse estar profundamente perplexo com “a situação horrível e a dramática perda de vidas em vários hospitais em Gaza”. Antônio Guterres disse que em nome da humanidade fazia um apelo por um cessar-fogo humanitário imediato.

Em Genebra, na Suíça, a porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse que “a chuva aumentará ainda mais o sofrimento” das pessoas em Gaza. A porta-voz enfatizou que a agência da ONU implora para que um cessar-fogo aconteça agora.

Foco de operações

Harris descreveu em detalhes “a terrível situação” no Hospital Al-Shifa, um foco de operações das Forças de Defesa de Israel, que afirmam que o Hamas estabeleceu um centro de comando sob o hospital. A alegação é negada pela equipe médica.

Falando dos “heroicos” profissionais de saúde, Harris disse que eles estão “fazendo tudo o que podem para continuar”, mesmo com a instalação sem energia desde 11 de novembro e com grave escassez de comida e água potável no local. 

Cerca de 700 pacientes ainda estavam presentes no hospital e mais de 400 profissionais de saúde, além de cerca de 3 mil pessoas deslocadas que ali procuraram refúgio. 

Relatos nesta terça-feira indicam que os militares israelenses se ofereceram para fornecer incubadoras ao hospital Al-Shifa, onde 36 bebês prematuros necessitam de cuidados constantes. 

Cerca de seis bebês prematuros teriam morrido nos últimos três dias, pois as suas incubadoras não puderam funcionar devido à falta de eletricidade. Questionada sobre a possibilidade de retirarr os pacientes, Margaret Harris explicou que todos os que permaneceram em Al-Shifa precisavam de apoio crítico para permanecerem vivos. 

Segundo ela, movê-los “seria algo muito difícil de pedir nas melhores circunstâncias”, e é muito mais difícil em meio a bombardeios, confrontos armados e falta de combustível para ambulâncias. A porta-voz da OMS disse que “a melhor maneira seria parar os ataques agora mesmo e concentrar os esforços em salvar vidas, e não em tirar vidas”.

Doenças transmitidas pela água

Além dos feridos pelo conflito, o sistema de saúde precisa lidar com um aumento nas doenças transmitidas pela água e infecções bacterianas, causado pelas interrupções no bombeamento de esgotos e a escassez de água.

A OMS alertou na semana passada que, desde meados de outubro, foram notificados mais de 33,5 mil casos de diarreia, principalmente entre crianças menores de cinco anos, cerca de 16 vezes a média mensal. 

As instalações geridas pela agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, estão mais de nove vezes acima da sua capacidade e a sobrelotação representa ainda mais riscos de saúde. Mais de 580 mil pessoas deslocadas no sul de Gaza procuraram abrigo nesses locais.

A agência afirmou nesta terça-feira que esgotou suas reservas de combustível e ficará impossibilitada de movimentar os caminhões que estão trazendo ajuda humanitária para Gaza. 

Em Genebra, as famílias de alguns dos 238 reféns detidos pelo Hamas em Gaza desde 7 de outubro continuaram a defender a libertação dos seus entes queridos. Foi anunciada uma reunião entre as famílias dos reféns e Mirjana Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Cicv, uma organização humanitária parceira da ONU. 

Em um comunicado, o Cicv disse que Spoljaric também se reunirá com as autoridades israelenses e que a organização tem “feito intervenções persistentemente em nome dos reféns mantidos em Gaza, inclusive diretamente com o Hamas e com atores que podem ter influência sobre as partes”.

Cerca de 135 ataques a instalações de saúde foram documentados em Gaza ao longo do mês passado. A OMS disse que este foi o número mais elevado registrado em um período tão curto de tempo. A porta-voz da OMS apontou para uma “tendência crescente” de ataques aos cuidados de saúde, também observada noutros conflitos em curso no Sudão e na Ucrânia. 

Ela contou a normalistas que “parece que de alguma forma o entendimento de que um hospital deve ser um porto seguro, um lugar aonde as pessoas vêm para serem tratadas quando precisam, foi esquecido”.

Segundo a agência da ONU, mais da metade dos hospitais em Gaza não funcionam devido à falta de combustível, danos, ataques e insegurança. Os 14 hospitais que permanecem abertos mal têm suprimentos suficientes para sustentar cirurgias críticas e prestar cuidados intensivos.

De acordo com o Escritório da ONU de Assuntos Humanitários, Ocha, apenas um hospital está funcionando no norte de Gaza.

Com ONU / assessoria

Wagner Sales – Editor de Conteúdo

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