Por: Jorge Eduardo Magalhães
Durante todo o dia não parei de pensar no meu grande amor. Nem ouvia os gritos do doutor Otávio e a chacota dos colegas com seus olhares e cochichos maliciosos. Só vinha à minha mente a imagem dela. Estava com a ideia fixa de tirá-la daquele cárcere, daquela escravidão.
O prédio que estava sendo construído onde ficava minha antiga casa estava quase pronto. Seria um prédio classe média com piscina, quadra de esportes, salão de festas, perfeito para minha nova vida ao seu lado. Só faltava ter o reconhecimento do meu amigo Ricardo, uma promoção e poder dar uma vida melhor à minha amada. Será que o Ricardo ficaria magoado comigo por eu me casar com a amante de seu pai? Claro que não, ele era meu amigo e compreenderia a situação, fora que ela era amante, e não esposa, seu pai estava traindo sua mãe.
Aproveitei a hora do almoço, como sempre comia naquela pensão imunda, e liguei para ela. Meu coração parecia explodir quando atendeu ao telefone com sua voz macia. Parecia estar empolgada em falar comigo. Disse que precisava muito falar comigo. Perguntei se poderia ir naquela noite e ela disse que não, pois naquela noite o doutor Otávio iria fazer sua “visitinha”, mas que no dia seguinte faria uma viagem de negócios e combinamos que eu fosse lá depois do expediente. Despedi-me mandando-lhe um beijo e ela riu como uma doce menina ingênua.
Não falei nada, tentei disfarçar, acho que consegui, mas fiquei louco de ciúmes só em imaginar que aquele porco imundo tocaria naquela pele alva e macia que era minha por direito. Respirei fundo tentei me controlar, aquela situação estava com os dias contados: em breve ela seria minha só minha.
Cheguei à empresa e fui recebido pelo doutor Otávio que, aos berros, disse que eu tinha demorado e que da próxima vez me colocaria na rua. Tive vontade de dar uma resposta, mas me segurei. Arrogante como sempre, ordenou que eu o acompanhasse. Claro que ele foi andando a quase dois metros de distância e eu apertava o passo para poder acompanhá-lo. Ele ordenou que eu esperasse na porta de sua sala. Esperei durante uns cinco minutos, até que permitiu que eu entrasse. Era uma pilha de documentos muito pesados que ele mandou que eu carregasse até o departamento pessoal. Peguei o documento e vi que estava muito pesado. Falei que precisava de alguém para me ajudar e, de forma ríspida, falou para eu me virar. Peguei os documentos com dificuldade. Estava pesado e difícil de carregar, fui levando com muita dificuldade pelo corredor. O doutor Otávio andava na frente falando para eu ir mais depressa. O meu ex-colega estava vindo em minha direção e colocou o pé na frente para eu cair. Os colegas de trabalho viram o que ele tinha feito e foi gargalhada geral. O doutor Otávio, quando me viu no chão com todos os documentos espalhados, aos gritos, chamou-me de imbecil para baixo. Levantei-me e tentei lhe explicar que a culpa tinha sido do meu ex-colega que colocou o pé na frente. Berrando ainda mais alto, mandou que eu calasse a boca e recolhesse a papelada no chão. Ainda insisti dizendo que todo mundo viu o que tinha acontecido e fui ainda mais humilhado. Não me restava outra solução, senão recolher todo o material espalhado. Todos riam com escárnio. O doutor Otávio fingia não ver que aquele meu ex-colega não valia nada. Quando visse o Ricardo contaria tudo para ele, com certeza me apoiaria. Tinha que desmascarar aquele desgraçado. A hora dele estava chegando.
Com muita dificuldade coloquei a pilha de documentos em cima da mesa da sala destinada. O doutor Otávio entrou e me olhou com desprezo. Naquele momento começava a surgir em mim um sentimento que ainda não tinha se manifestado antes, senti um misto de ódio e repugnância por ele. Meu primeiro impulso foi o de pegar um estilete, que estava em cima da mesa, e dar várias estocadas no pescoço daquele desgraçado, ainda mais sabendo que ele planejava naquela noite dormir com minha amada. Foi só um impulso, na hora desisti. Não podia estragar tudo e nem fazer o meu amigo Ricardo sofrer com a morte do pai cujo assassino seria seu melhor amigo. Odiava aquele velho e meu ex-colega: eles se mereciam.
Quando o Ricardo, chegou fui correndo até ele contar o que tinha acontecido. Disse que precisava falar com ele e, apertando o passo, disse que estava muito ocupado. Quase corri para acompanhá-lo e fui lhe contando rapidamente o que tinha acontecido. Acho que não ouviu o que eu disse, coitado, estava com a cabeça a mil com os problemas da empresa. Ele me pediu licença e bateu a porta de sua sala com força. Nem percebeu que quase me machucou. Como meu amigo é desatento.
Quando terminou o expediente, eu não conseguia voltar para o meu quarto. Estava angustiado só em imaginar o que aconteceria na casa de minha amada com o porco imundo do doutor Otávio. Não queria, mas era involuntário, imaginava aquele crápula tocando nela, o ato sexual. Tinha que dar um fim naquela situação. Não podia esperar mais. Pensei em ir até a casa dela, mas novamente controlei meus impulsos.
Comecei a vagar sem rumo pelas ruas, quando resolvi entrar em um centro de lazer. O lugar era uma verdadeira espelunca, uma forte luz vermelha, um som alto e o insuportável cheiro de mofo que se misturava com a fumaça de cigarro formavam o ambiente degradante. Sentei-me em uma mesa no canto e pedi uma cerveja. Uma jovem muito bonitinha, que trajava roupas íntimas, perguntou se poderia me fazer companhia. Disse que sim, ela se sentou e pediu um copo. Ela bebeu a cerveja em um único gole e perguntou se eu não queria ir para a cabine com ela. Relutei um pouco, mas precisava esquecer de que minha amada àquela hora provavelmente estava fazendo sexo com o doutor Otávio. Disse que sim, fui à recepção e fomos para a cabine que ficava no andar de cima. Chegando lá, ela foi logo tirando a roupa e me acariciando. Comecei a suar frio e senti uma estranha tremedeira. Ela percebeu e disse para que eu me acalmasse. Pedi para que se sentasse ao meu lado na cama. Começamos a conversar e perguntei sobre sua vida, como tinha parado ali naquele lugar. A jovem tinha um semblante triste, e me contou que era de uma família muito pobre e veio do interior para tentar a vida na cidade grande. Tinha o grande sonho de ser modelo. Veio enganada por um falso agenciador que lhe prometeu uma brilhante carreira. Chegando aqui, fez algumas fotos, mas o falso empresário disse que ela tinha que começar fazendo programa. A princípio se assustou um pouco, mas seu algoz a iludiu dizendo que no início da carreira isso era normal e que todas as modelos famosas começaram daquela forma.
Mesmo sentindo nojo, fez um esforço e começou a se prostituir, agora estava totalmente envolvida naquele mundo e não conseguia mais sair, pois além de estar devendo dinheiro não sabia fazer outra coisa. A jovem, à medida que contava sua história, as lágrimas desciam. Quase que chorei junto com ela. Abracei-a com força, disse que se um dia fosse possível faria alguma coisa para tirá-la daquela vida. Emocionada, a jovem me deu um forte abraço dizendo que eu era um homem maravilhoso.
Alguém bateu na porta e uma voz de mulher anunciou que nosso tempo tinha acabado. Ela se levantou e colocou suas roupas íntimas. Fiquei tão emocionado com seu relato que peguei o dinheiro que tinha na minha carteira e entreguei a ela. O choro dela cessou e ela me deu um forte abraço de agradecimento. Pediu licença e saiu da cabine. Ainda fiquei durante alguns instantes.
Quando desci, ela já estava sentada na mesa conversando com outro cliente e nem falou direito comigo quando acenei para ela.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Cada vez mais complexas as ações dele.
Muita ingenuidade numa pessoa só.