Duas denúncias foram oferecidas à Justiça pela 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial do Núcleo de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, por casos distintos em que os criminosos utilizaram um modus operandi semelhante para lucrar com os roubos: a negociação de valores com “seguradoras” em troca do resgate dos veículos roubados. Numa das ações penais, os denunciados respondem pelos crimes de roubo majorado e associação criminosa. Na outra, por tentativa de latrocínio (roubo seguido por homicídio tentado).
A prática de traficantes “patrocinarem” roubos para cobrar pela devolução dos veículos, explica a promotoria, é preocupante e vem se tornando corriqueira em favelas dominadas pelo Comando Vermelho. A primeira denúncia descreve o roubo de um automóvel BYD Dolphin, em 22 de novembro de 2024, em Nova Iguaçu. Foram denunciados Rodrigo do Nascimento Novaes da Silva, o “RD”, Dailson Leite Serra, o “DN”, Lucas Gonçalves da Silva, o “LC”, e Valdo Rai Azevedo Teixeira, que confessaram cometer uma série de assaltos a motoristas. Os carros roubados eram levados para o Complexo do Chapadão, onde os criminosos negociavam os “resgates” com as seguradoras ou associações de proteção veicular e, em alguns casos, diretamente com os proprietários.
Traficantes do Chapadão
A investigação apurou que os veículos e armamentos utilizados nos assaltos eram fornecidos por traficantes do Chapadão. Após a negociação do resgate, que correspondia a aproximadamente 10% do valor do veículo na Tabela FIPE, os traficantes ficavam com 70% do valor arrecadado, enquanto os 30% restantes eram divididos entre os executores dos roubos.
A segunda denúncia é sobre uma tentativa de latrocínio cometida por Cauã Amorim Gonçalves, no dia 20 de janeiro deste ano, no Engenho Pequeno, também em Nova Iguaçu. A vítima transitava com sua motocicleta quando foi abordada por dois homens em uma moto – Cauã estava armado na garupa. De acordo com a denúncia, a vítima parou sua motocicleta, mas, mesmo assim, o piloto ordenou que o garupa o matasse. Percebendo que o denunciado iria atirar, a vítima entrou em luta corporal e agarrou a arma de Cauã. Durante o embate, cinco disparos foram efetuados, tendo um deles atingido a vítima e outro o próprio denunciado. Cauã foi preso enquanto recebia atendimento no Hospital da Posse.
Assim como na outra denúncia, ele declarou que o valor que receberia pela motocicleta iria depender de quanto a “seguradora” iria pagar pelo resgate. Cauã, por sua vez, atuava em conjunto com traficantes de uma favela em Belford Roxo, também controlada pela facção Comando Vermelho.
A Promotoria ressalta que a atuação desse tipo de quadrilha contribuiu significativamente para o aumento de 68% nos roubos de veículos na região em 2024, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Além disso, a prática de negociar a devolução dos automóveis roubados tem incentivado novos crimes de roubo de automóveis e explica o crescimento expressivo no número de veículos recuperados em 2024, que verificou um aumento de 30% em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, e de 117% em Belford Roxo.
Com informações de assessoria
Wagner Sales – Editor de conteúdo