Por: Jorge Eduardo Magalhães
Perdi tudo no jogo. Não tenho como pagar a dívida, estou sendo ameaçado. Dívida de jogo é dívida de jogo, deve ser paga. Minha filha angustiada vem me buscar. Pede para ir embora com ela. Ela chega na hora que estão me segurando pela gola ameaçando me bater se eu não pagar o que devo. O meu algoz me solta na hora que ela chega. É humilhante para mim minha filha me ver naquela situação.
– Amanhã volto aqui e te pago.
– Posso perdoar tua dívida – diz o algoz olhando para minha filha com a cumplicidade dos outros.
Entendo o que ele quer dizer.
– Minha filha não.
– Então não tem outro jeito a não ser te arrebentar.
– Não toque no meu pai, eu vou contigo!
Ele me solta, dá um sorriso sarcástico. Gargalhadas cruéis. Meus olhos enchem de lágrimas.
– A dívida está paga.
Pega minha filha pela mão e vai para um quartinho nos fundos. Ela prende o choro.
Penso em gritar, em mandar parar com aquilo. Vai começar uma nova rodada no carteado. Sento-me à mesa e recomeço o jogo.
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Mas que FDP.
Nossa! Que triste! Um pai desse não tem perdão!