Dizem que há muitos anos, nas sombras da Igreja do Rosário em Lorena, um padre negro foi encontrado enforcado. Não sei se essa história é verdade ou mito, mas uma coisa é certa: A igreja, erguida em frente à onde açoitavam os negros, carrega um peso imenso, um silêncio ensurdecedor entre suas paredes antigas.
O Vale do Paraíba, com suas paisagens exuberantes,foi também um palco de sangue e lágrimas, onde a história se entrelaça com lutas e conquistas. Entre as montanhas e os rios, os pelourinhos se ergueram como testemunhas silenciosas de uma época brutal, quando a escravidão moldou não apenas o Brasil, mas também a alma de seu povo. Esses monumentos, que em muitas cidades da região, como Taubaté, Guaratinguetá e Lorena, foram símbolos de poder e punição, injustiças que não devem ser esquecidas.
A opressão dos povos africanos trazidos para estas terras e seu silêncio nos convocam a refletir sobre uma parte dolorosa da nossa história.
A Igreja do Rosário, localizada em um espaço onde a dor e a injustiça eram palpáveis, se torna um símbolo ainda mais potente quando pensamos na história do padre negro. Sua morte, se é que realmente ocorreu da forma que se conta, as histórias de muitos que foram silenciados, esquecidos nas páginas obscuras da história. O que mais me intriga não é apenas a tragédia em si, mas o fato de que, mesmo após tantos anos, continuamos a discutir essas narrativas entre o que é lenda e o que é verdade, pois os livros de história por muito tempo trataram a história do povo negro como lenda.
Onde se encontram os pelourinhos escondidos, que muitas vezes não estão em guias turísticos, possuem histórias que precisam ser contadas. Eles nos convidam a olhar para o passado com um olhar crítico e empático, a reconhecer que a história não é apenas feita de grandes eventos, mas também de vidas individuais que vivenciaram dor e resistência. Cada pelourinho é um grito silencioso que nos lembra da necessidade de justiça, de verdade e de reparação.
Enquanto caminhamos pelo Vale do Paraíba, que possamos não apenas apreciar suas belezas naturais, mas também nos conectar com sua história complexa. Que possamos honrar a memória de todos aqueles que sofreram e lutaram, e que, ao fazer isso, possamos construir um futuro em que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas.
A Igreja do Rosário e os pelourinhos que a cercam nos ensinam que, por trás de cada pedra, há uma história a ser contada, um legado a ser lembrado. E é através dessa memória coletiva que podemos, finalmente, buscar a cura e a reconciliação ou encontrar ao redor um cemitério de negros!
Denílson Costa
Acervo: Ercio Mollinari
Praça Cap.Mor Manoel Pereira de Castro
Década 1950 Lorena SP