Florianópolis (SC) – Embora invisíveis a olho nu, os pequenos fragmentos de plástico estão por toda parte, impactando a vida de maneiras que muitas vezes não são percebidas. Um estudo publicado na revista Nature, que é uma das conceituadas da área científica, mostra que microplásticos podem ser encontrados em todos os ambientes da Terra, desde os picos das montanhas até as profundezas dos oceanos. Suas origens são diversas: embalagens, partículas no ar e a degradação de plásticos maiores, que, conforme se fragmentam, transformam-se em microplásticos.
Um dos estudos mais recentes sobre microplásticos encontrou esses elementos em testículos humanos. Publicado na Toxicological Sciences e conduzido por pesquisadores da Universidade do Novo México, nos EUA, o estudo analisou 23 testículos de homens e 47 de cães.
Amostras
Partículas de plástico foram encontradas em todas as amostras. Os testículos humanos examinados foram obtidos por meio de autópsias realizadas em 2016, em corpos de homens entre 16 e 88 anos. Já os testículos de cães foram obtidos em clínicas veterinárias após operações de castração.
E como chegam até o corpo humano? De acordo com o biólogo Paulo Jubilut, professor no Aprova Total, são diversas formas: “Além do ar, os fragmentos acabam na cadeia alimentar, sendo ingeridos por organismos marinhos como os peixes. Consequentemente, ao consumir frutos do mar, estamos potencialmente ingerindo microplásticos”, aponta o professor.
Um estudo da Universidade de Auburn (EUA) revelou que a dieta é a principal fonte de ingestão de microplásticos, com uma média anual de 39.000 a 52.000 fragmentos por pessoa. Além disso, uma pesquisa da Associação Americana do Meio Ambiente detectou microplásticos na água potável de torneiras em todo o país, destacando a onipresença dessas partículas em nosso cotidiano.
Estão presentes na água que bebemos, nos alimentos que consumimos e no ar que respiramos. A Universidade Cornell mapeou a absorção de microplásticos em 109 países, destacando que Indonésia, Malásia e Filipinas lideram no consumo via dieta, enquanto China, Mongólia e Reino Unido apresentam altas taxas de inalação dessas partículas.
Os cientistas ainda estão desvendando os efeitos dos microplásticos no corpo humano. “Já foram encontrados no sangue, pulmões, placenta e até no coração. Pesquisas indicam que esses fragmentos podem causar reações alérgicas, morte celular e interferir no desenvolvimento de células-tronco pulmonares. Embora os estudos sejam preliminares, há preocupações de que possam provocar inflamações e até câncer”, alerta Jubilut.
Além dos impactos à saúde, os microplásticos têm consequências devastadoras para o meio ambiente. Estima-se que, todos os dias, 2 mil caminhões de lixo cheios de plástico sejam despejados em oceanos, lagos e rios. “Essa poluição prejudica mais de 700 espécies marinhas e afeta a fotossíntese do fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha”, explica Jubilut.
Desde 1950, 8,9 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas, mas metade dessa quantidade foi gerada somente a partir de 2004. Paulo Jubilut informa que a maior parte desse plástico acaba em aterros sanitários ou na natureza, com apenas 9% sendo reciclado globalmente. A decomposição do plástico pode levar séculos, durante os quais se fragmenta em microplástico.
Para mitigar esse problema, é crucial desenvolver produtos reutilizáveis, criar leis para garantir a reciclagem e o retorno do plástico, e investir em biotecnologia para degradar o plástico existente. Produtos biodegradáveis e a eliminação de plásticos de uso único também são passos importantes.
Com informações de assessoria
Wagner Sales – Editor de conteúdo