Por: Jorge Eduardo Magalhães
Dois quarteirões depois do prédio onde moravam, havia um cortiço, com muitas crianças. Várias famílias eram compostas apenas por mulheres com um número considerável de filhos. Uma delas tinha sete, que viviam amontoados em um minúsculo cubículo da casa de cômodos.
Com o pretexto de fazer doações de mantimentos e de roupas para famílias carentes, Natália começou a frequentar o local, observando o número de crianças. “Como aquelas mulheres sem nenhuma condição econômica eram tão férteis, enquanto ela não conseguia engravidar?”
A única que não tinha filhos era uma tal de Agripina, uma mulher senil que vivia sozinha no último cômodo do cortiço. Natália costumava vê-la pelos arredores do bairro, revirando o lixo. Era a única que não tinha filhos nem ninguém. As mulheres do cortiço diziam que Agripina era nordestina e, com o tempo, começara a enlouquecer. Alguns moradores de rua, quando queriam se aliviar sexualmente, a procuravam, mas ela nunca engravidou, embora sempre falasse de seus filhos imaginários, brincando com bonecas velhas, ou parte delas, provavelmente, encontradas no lixo. Observou que, no quarto de Agripina, havia muitas coisas interessantes que ela pegava das lixeiras dos arredores, como as bonecas e até um taco de beisebol.
– Quem será que joga beisebol no Brasil? – perguntava-se Natália a si mesma.
Natália ficou intrigada com aquela figura bizarra, maltrapilha, com os dentes em petição de miséria, que vivia naquele fétido cômodo do cortiço, ninando bonecas velhas. Nenhuma das duas nunca conseguiu engravidar, mas, pelo menos, não vivia naquelas condições sub-humanas como Agripina, pensava.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
Acessem meu blog: http://jemagalhaes.blogspot.com
Adquiram meu livro UMA JANELA PARA EUCLIDES
editorapatua.com.br/uma-janela-para-euclides-dramaturgia-de-jorge-eduardo-magalhaes/p
Bem realista essa miséria humana.
Tá ficamdo bom