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Indolência crônica

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Não tenho vícios. Não bebo, não fumo, nunca usei drogas ou algo parecido, sou extremamente caseiro e nunca fui mulherengo. Só tenho um problema, não gosto de fazer nada. Tenho mais de trinta anos e posso dizer que, praticamente, nunca trabalhei. Fico o dia inteiro em casa assistindo TV, deitado em minha cama.

Nunca me casei e tive pouquíssimas namoradas; tenho pouca paciência para mulheres e uma libido quase inexistente. Vivo com minha mãe que está sempre me perturbando com essa ideia de que preciso arranjar um emprego. Trabalhar em quê? Mal terminei os estudos, pois tinha preguiça de ir à escola, não sei fazer nada, não consigo acordar cedo.

Adoro a rotina, não reclamo. Acordo meio-dia, almoço e volto para a cama para assistir TV. À tarde faço um lanche e permaneço na cama, depois tomo um banho para jantar. Assim é a minha vida, não pretendo mudar. Não tenho ambição, não quero ter nada na vida, somente um teto, comida e uma TV para assistir.

Agora, todos os dias, minha mãe manda eu procurar um emprego. Recorta anúncios de jornais, com possíveis lugares para trabalhar. De vez em quando, para não a contrariar, saio de casa, dizendo que vou procurar emprego, dou uma volta pelo bairro, dizendo que o responsável pela entrevista e seleção disse para eu aguardar o seu contato.

Entretanto, ultimamente, ela tem me tratado muito mal por ficar o dia inteiro em casa, chamando-me de parasita, dizendo que tenho uma indolência crônica. Sei que minha mãe tem algum dinheiro aplicado e umas três casas alugadas. Acho que dá para eu sobreviver com isso. Como eu queria que ela morresse. Preciso encontrar uma forma de ela morrer, sem despertar nenhuma suspeita, precisa parecer um acidente; ou melhor, morte natural. Por enquanto, não tem jeito: preciso aturar a sua perturbação.

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