Nova Iorque (US) – O coordenador humanitário interino da ONU para os Territórios Palestinos testemunhou como a insegurança alimentar e a desnutrição estão “atingindo duramente” a população palestina. Ele apelou a Israel para reverter o fornecimento “precário” e “intermitente” de comida em Gaza.
Em entrevista para a ONU News, Jamie McGoldrick, comentou a decisão tomada pelas autoridades israelenses no domingo, que impede a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, de seguir entregando ajuda alimentar no norte do enclave.
Atitude errada
O especialista afirmou que “qualquer interrupção no fornecimento de alimentos, que já é muito frágil, é uma atitude errada”. Segundo ele, as Nações Unidas têm “sorte” quando consegue receber de 10 a 15 caminhões em Gaza em um período de dois dias.
McGoldrick ressaltou que no momento as entregas de ajuda no norte do enclave são feitas por poucas organizações, incluindo o Programa Mundial de Alimentos, PMA, a ONG World Central Kitchens e a Unrwa, responsável pela maior parte. Ele disse estar empenhado em abrir “todas as rotas rodoviárias de norte a sul ou de sul a norte” e trazer mais caminhões para garantir que o abastecimento esteja disponível.
O coordenador humanitário afirmou que não se importa com qual organização traz a comida e sim em receber mais alimentos do que a quantidade atual. Em visita ao norte da Faixa de Gaza na semana passada, ele viu diretamente o impacto da falta de abastecimento de alimentos nas crianças do hospital Kamal Adwan.
Segundo McGoldrick, visitar a enfermaria infantil é “absolutamente chocante”, pois todas as crianças têm deficiências nutricionais. Ele disse que muitas delas passaram por complicações, como hepatite A ou infecções intestinais, e tudo isso “enfraqueceu o sistema imunológico”. Na enfermaria neonatal não existem incubadoras suficientes para todos os bebês.
O especialista mencionou planos para retirar do hospital uma criança com um tumor cerebral e outra com fibrose cística e levá-las para o sul, depois para o Cairo para ofertar o tratamento de que necessitam.
McGoldrick afirmou que caso a resolução aprovada nessa segunda-feira pelo Conselho de Segurança resulte em um cessar-fogo, seria possível transportar mercadorias com segurança, e não haveria necessidade de sistemas de inspeção que causam atrasos por serem “repetitivos, imprevisíveis e burocráticos”.
Analisando a situação no sul de Gaza, McGoldrick disse que se houver uma incursão na cidade de Rafah, a resposta humanitária da ONU seria “quebrada”.
Devido às enormes restrições e obstáculos gerados pelo conflito, ele disse que não foi possível pré-posicionar alimentos e água no local. Por isso, se as pessoas forem forçadas a se deslocar, não será possível lidar com o fluxo, que o especialista estima em 500 a 900 mil pessoas.
“Neste momento estamos num modo de planejamento de contingência para enfrentar a atual catástrofe humanitária, e caso isso seja duplicado, com pessoas forçadas a se deslocar, nós simplesmente não seríamos capazes de responder”, disse ele.
Com informações de ONU News
Wagner Sales – Editor de conteúdo