Cairo – Um protocolo que, ao mesmo tempo, garante segurança alimentar, padrões rigorosos de qualidade e retira amarras burocráticas à exportação de carnes bovinas, suínas e de aves do Brasil para o Egito. E um memorando que reforça parcerias, cooperações e pesquisas nas áreas de ciência, tecnologia e inovação entre os dois países.
A assinatura desses acordos foi uma das marcas da visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito, nesta quinta-feira (15/2). Após reuniões bilaterais entre Lula e o presidente Abdel Fattah Al-Sisi, no Cairo, os líderes dos dois países anunciaram os acordos e fizeram uma declaração à imprensa.
“Assinamos nesta visita importantes acordos nas áreas de ciência e tecnologia e agricultura, que contribuirão para o desenvolvimento de áreas estratégicas”, resumiu Lula em seu discurso. O presidente brasileiro citou ainda que a entrada em vigor de entendimento no setor aéreo vai permitir voos diretos entre Brasil e Egito para favorecer o intercâmbio bilateral.
Também não faltaram apelo por cessar-fogo em Gaza, ações para aprofundar relações comerciais, convite para visita oficial ao Brasil, assinatura de acordos e a consolidação de um novo patamar de relações, a partir de interesses mútuos em espaços como Brics e G-20. O evento no Cairo celebra os 100 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Egito.
Aprimorar as relações
O presidente egípcio enfatizou a intenção de aprimorar as relações não só nos setores agropecuários e científicos, mas também nas áreas culturais, econômicas e políticas. Al-sisi confirmou que aceitou o convite de Lula para uma visita oficial ao Brasil no fim do ano.
O protocolo para exportação de carnes cria uma equivalência dos sistemas de inspeção de carnes, também conhecido como “pre-listing”. A medida facilita as exportações brasileiras de carnes bovina, suína e de aves para o Egito.
“O ‘pre-listing’ reflete o alto grau de confiança no controle sanitário brasileiro, especialmente no Serviço de Inspeção Federal (SIF), cuja excelência é reconhecida por mais de 150 países importadores. O Egito, um dos seis maiores importadores mundiais de carne bovina do Brasil, e líder na importação de carne de aves do nosso país, demonstra a força e o potencial de crescimento das relações comerciais estabelecidas. Somente no ano passado conquistamos quatro novos mercados no Egito, entre eles o de algodão”, afirmou Roberto Perosa, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Antes deste acordo, a renovação da habilitação de estabelecimentos brasileiros para exportação exigia auditorias presenciais por parte das autoridades egípcias. O procedimento implicava altos custos para os exportadores, sobrecarregava os auditores do ministério e limitava o número de estabelecimentos autorizados a exportar. Desde 2019, cerca de 30 estabelecimentos brasileiros estavam na “fila de espera” para a habilitação.
Agora, as instituições certificadas pelo Brasil serão automaticamente reconhecidas pelo Egito, que tem o direito de visitar os estabelecimentos sempre que julgar pertinente para verificar o cumprimento dos requisitos.
A formalização da pré-listagem foi oficializada pelo embaixador do Brasil no Cairo, Paulino Franco de Carvalho Neto, e pelo ministro de Estado da Agricultura e Recuperação de Terras do Egito, Mohamed Sayed El-Quseir.
O Memorando de Entendimento na área de ciência, tecnologia e inovação foi assinado pela ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e pelo representante do Ministério do Ensino Superior e Pesquisa Científica do Egito.
O texto pretende elevar a cooperação bilateral na área e incentivar a colaboração entre empresas, universidades e institutos de pesquisa, incluindo projetos conjuntos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, intercâmbios de pessoal e seminários.
O texto do acordo prevê oportunidades de intercâmbio e desenvolvimento para pesquisadores, estudantes e funcionários universitários, organização conjunta de eventos, intercâmbio de startups, chamadas conjuntas de pesquisa, intercâmbio de informações.
Visita à Etiópia
Após visitar o Egito, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, começa a programação da visita de Estado à Etiópia, nesta sexta-feira (16.2), onde participará da Cúpula da União Africana como convidado. Também estão previstas reuniões e a presença no evento “Financiamento climático para a agricultura e segurança alimentar: Implementação da Declaração de Nairóbi e resultados da COP-28”.
Lula já desembarcou em Adis Abeba, capital etíope. Na manhã desta sexta-feira, sua agenda começa com a cerimônia de oferenda floral em homenagem aos heróis caídos na Batalha de Adwa, ocorrida em março de 1896 entre a Etiópia e a Itália. Em seguida, o presidente visita o Museu Memorial de Adwa.
O líder brasileiro será recebido na Sede do Governo Etíope para a cerimônia de boas-vindas, sucedida por uma reunião ampliada com o primeiro-ministro da República Democrática Federal da Etiópia, Abiy Ahmed. Depois, Lula e Ahmed se reunirão a portas fechadas.
Após o almoço oferecido a Lula pelo primeiro-ministro etíope, o presidente brasileiro continua sua série de agendas em Adis Abeba. O último compromisso previsto para esta sexta-feira é o evento sobre financiamento climático para agricultura e segurança alimentar.
Além da visita de Estado à Etiópia, o presidente Lula participará da Cúpula da União Africana. A sede da entidade, que se tornou membro oficial do G20 em 2024 com apoio do Brasil, fica em Adis Abeba. Com a participação de dezenas de chefes de Estado e governo na cúpula, o presidente tem convites para diversas reuniões bilaterais, que ainda não estão definidas.
O embaixador Carlos Duarte, secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, destacou que a Etiópia é um país com o qual o Brasil pode desenvolver um comércio mais forte. “É um país que tem tido um crescimento econômico forte e significativo e é um mercado importante. O Brasil pode se beneficiar tendo uma presença maior na Etiópia”, explicou o embaixador.
De acordo com Duarte, o convite para a cúpula da União Africana pode ser interpretado como um sinal de prestígio, já que na maior parte das vezes apenas os governantes africanos participam desse evento. “É um reconhecimento da prioridade que o presidente vem dando à África em sua política externa”, destacou.
Com informações de assessoria
Wagner Sales – Editor de conteúdo