Curitiba – Três dias para correr 100 km nas montanhas. Como recompensa, uma das mais belas paisagens da natureza: a Cordilheira dos Andes, na junção entre Chile e Argentina. A El Cruce é considerada uma das provas de corrida mais difíceis do mundo, devido à distância percorrida, à geografia do trajeto e ao tempo para realização. O percurso atravessa montanhas e vulcões, picos nevados, florestas, vales, lagos e áreas rochosas. É uma competição que reúne cerca de 4 mil atletas de vários países, que são apaixonados por aventura e desafio.
O médico anestesiologista André Covolan faz parte desse grupo. Ele participou de cinco edições, sendo a última no início de dezembro de 2023. Nessa prova, André não foi só atleta; ele correu também como voluntário do projeto Coração Seguro.
Atletas com mal súbito
A iniciativa foi pensada para que, caso fosse preciso, André e médicos que trabalham com ele no Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), pudessem atender atletas que tivessem mal súbito. Para isso, os profissionais de saúde fizeram todo o percurso de prova com Desfibrilador Externo Automático (DEA) na mochila. O aparelho é utilizado para o diagnóstico do ritmo elétrico do coração e sugere a aplicação de choque em situações adversas do paciente, como parada cardiorrespiratória, choque anafilático, acidente vascular cerebral (AVC).
“Estávamos em um local de difícil acesso para ambulâncias, até para helicópteros. Nosso projeto é prestar serviço voluntário: o mesmo atleta que corre é o atleta que resgata, caso necessário. A forma mais comum de parada cardiorrespiratória fora do ambiente hospitalar é a taquicardia ventricular sem pulso e a fibrilação ventricular. Se você tentar reanimar um paciente desses sem o desfibrilador, a chance de sucesso é muito pequena; precisamos do choque”, explica o anestesiologista.
O projeto foi idealizado por André, pelo também anestesiologista Felipe Falcão e pela patologista Larissa Luvison. O trio pratica esportes rotineiramente e já participou, em conjunto, de outras três edições da El Cruce. Para o projeto Coração Seguro, Felipe conseguiu um desfibrilador automático, equipamento que realiza a leitura do batimento cardíaco do paciente e direciona a conduta médica. O aparelho foi cedido pela empresa Macrosul/MDSpirit. O desfibrilador pesa cerca de 1,1 kg, e os três médicos revezaram no carregamento da mochila. “Foi a primeira vez que eu carreguei um desfibrilador em uma mochila, durante uma competição. Foi uma experiência muito importante, pois mostramos que é possível fazer e que é viável conciliar a paixão por esportes extremos e a paixão pela medicina”, analisa Felipe.
No primeiro ano do projeto, não houve necessidade de uso do aparelho. Um bom sinal, já que não houve atletas que necessitaram de atendimento especializado para o coração. Para 2024, o plano é contar com apoio da organização do evento para garantir ainda mais segurança aos atletas participantes. “Nesse primeiro momento, nosso intuito foi mostrar que é possível e que estamos prontos para ajudar. Agora, vamos buscar oficializar a proposta e agregar outros interessados em participar do Coração Seguro”, finaliza André.
Com informações de assessoria
Wagner Sales – Editor de conteúdo