Com profundo pesar, o governo brasileiro recebeu a notícia da morte do ex-Presidente da República Oriental do Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica, aos 89 anos, em Montevidéu. Mujica, que completaria 90 anos em 20 de maio, era considerado um grande amigo do Brasil e um entusiasta da integração regional, defendendo o Mercosul, Unasul e Celac. Ele é reconhecido como um dos principais artífices da integração da América do Sul e da América Latina e um importante humanista. Seu compromisso com uma ordem internacional mais justa e solidária é visto como exemplo.
Em dezembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria brasileira a estrangeiros. Lula o descreveu como “a pessoa mais extraordinária” entre os presidentes com quem conviveu.
Pepe Mujica havia anunciado em abril do ano passado um diagnóstico de câncer no esôfago. Desde então, sua saúde inspirava cuidados. Segundo sua esposa, Lucia Topolanksy, ele estava em estágio terminal e recebia tratamento paliativo. Devido às condições de saúde, Mujica não pôde votar nas eleições regionais uruguaias no último domingo (11).
Legado de Simplicidade e Leis Progressistas:
Pepe Mujica presidiu o Uruguai de 2010 a 2015. Ele ganhou notoriedade global como o “presidente mais pobre do mundo” devido ao seu estilo de vida simples, dirigindo um Fusca antigo e doando parte do salário para projetos sociais. Suas reflexões políticas com teor filosófico também marcaram sua trajetória.
Durante seu governo, promoveu uma legislação considerada progressista no Uruguai, incluindo a descriminalização do aborto, a lei do casamento igualitário (permitindo adoção por casais homossexuais) e a legalização da maconha. O historiador Rafael Nascimento destaca que, em sua gestão e na anterior da Frente Ampla, a pobreza no país caiu de 39% para 11,5% (2004-2015), houve expansão de programas sociais, aumento do salário mínimo e políticas educacionais e habitacionais.
Mujica é celebrado por sua ética de vida, simplicidade e luta por justiça social, sendo uma referência global na defesa da solidariedade, respeito à natureza e consumo consciente.
Guerrilheiro e Prisão:
Nascido em 1935 nos arredores de Montevidéu, Mujica entrou para a política fundando o Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, grupo guerrilheiro urbano que enfrentou a ditadura uruguaia (1973-1985). Sua atuação lhe custou cerca de 14 anos de prisão, com torturas e longos períodos em solitária, experiência retratada no filme “Uma Noite de 12 Anos”.
Após o fim da ditadura, foi libertado e ajudou a criar o Movimento de Participação Popular, parte da coalizão de esquerda Frente Ampla, que o levou à Presidência. Antes, foi deputado, ministro e senador, cargo ao qual renunciou em 2020.
“Ou nos integramos, ou não somos nada”, repetia Mujica, sempre defendendo a união dos países latino-americanos e caribenhos como fundamental para o desenvolvimento e para defender a soberania regional em um mundo globalizado. Ele argumentava que apenas a colaboração entre as nações da região pode multiplicar sua força no cenário mundial.
Com informações de Agência Gov.
Wagner Sales – editor de conteúdo
Foto: José Cruz / Agência Brasil