Por: Jorge Eduardo Magalhães
Acordei com sede, de madrugada, depois de ter sonhado a noite inteira com minha esposa. Na verdade, tive terríveis pesadelos com a imagem de seu corpo desfalecido, o livro de Kafka ao seu lado e, posteriormente, com seu cadáver coberto de vermes, roendo suas carnes.
Levantei-me com a respiração ofegante, encharcado de suor e com o coração acelerado e, depois de beber uns três copos d’água, resolvi trabalhar um pouco. Liguei o computador e senti um calafrio quando me deparei com a “Terceira Epístola” na caixa de e-mails do jornal:
Prezado Editor,
Soube que foi intimado a depor por causa das minhas revelações na coluna. Pode ficar à vontade, falar o que quiser. Eles nunca chegarão até mim. Fora que não sou contra a polícia, muito pelo contrário, inclusive estou lhes prestando um serviço, tanto que constataram a culpa de Ed e o mistério do maníaco das ruivas foi desvendado graças a mim.
Tenho consciência de que, ao tentarem descobrir minha identidade, estão fazendo o serviço deles, tendo em vista que, apesar de colaborar com a polícia e fazer um bem à humanidade, faço a minha justiça fora do que a lei determina. Mas, como disse, fique tranquilo: eles não chegarão até mim.
Mas vamos ao que nos interessa e falar sobre Ted, o garoto de programa que morreu envenenado com cianureto na sauna gay. Adilson da Silva, mais conhecido no reduto de michês como Ted, era um dos clientes ou confessores, como achar melhor denominar, e relatou-me sobre o asco que sentia daquele vasto submundo em que vivia.
Contou-me que era comum, no vestiário dos funcionários da casa, um praticar sexo oral no outro antes de a casa abrir e atender os clientes, o que lhe causava uma enorme repulsa e desprezo pelos seus colegas de trabalho. Estar naquela vida era uma verdadeira tortura, tanto que sempre bebia um copo de uísque duplo para conseguir enfrentar a sua árdua rotina.
Procurou-me para desabafar seu martírio e angústia e queria, de qualquer forma, redimir-se e purificar o seu corpo de toda aquela podridão que vivia e a que submetia o seu corpo como objeto de troca e venda. Achava os clientes pegajosos e repugnantes e, sempre após o programa, tinha vontade de acabar com suas vidas.
Percebendo o quanto estava sensível, sugeri uma forma de se purificar e vingar toda a sua angústia e asco em relação aos clientes antes de largar aquela vida, tarefa que prometi ajudá-lo e cumpri. Ele quis saber como eu o ajudaria a mudar o rumo de seu destino, e pedi que aguardasse.
Disse-lhe que Ed era um ser que fazia mal às pessoas e dei-lhe a incumbência de seduzi-lo e eliminá-lo. Por isso, detalhei e forneci a ele todos os passos de Ed; contei-lhe que aquela era uma missão de purificação. Ted eliminou o maníaco das ruivas sem saber, realmente, quem ele era.
Cordialmente,
O Anjo Epistolar
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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