Por: Jorge Eduardo Magalhães
Lisa foi morar em meu apartamento, e passamos a viver maritalmente. Era impressionante a semelhança com minha esposa em todos os sentidos, inclusive na forma como fazíamos amor. Continuava intrigado e impressionado com toda aquela louca situação: parecia viver em um devaneio.
Aparentemente, apesar da estranha situação de como ela surgiu em minha vida e da diferença de idade, nosso relacionamento era normal e muito agradável. Lisa ajudava nas tarefas domésticas e manteve seus estudos no curso de Letras; aliás, era muito inteligente e conhecia Literatura como nunca vi ninguém em sua idade.
Embora tudo parecesse estar correndo bem, ainda não poderia confiar plenamente em Lisa; por isso, era preciso muita cautela para que ela não descobrisse de imediato que eu era o verdadeiro mentor do Patrulha Carioca. Certa vez, chegou até a falar que seus colegas de faculdade estavam comentando sobre a coluna do Anjo Epistolar, mas me fiz de desentendido e ela mudou de assunto, parecia não ter se dado conta de nada.
Precisava, pouco a pouco, ter total confiança em Lisa, queria ter certeza de que não desapareceria novamente, pois estava me apegando demais àquela menina; por isso, quis fazer um teste: disse-lhe que precisaria passar o dia fora, fiz uma lista para que ela comprasse no supermercado e deixei uma boa quantia em cima da mesa.
Despedi-me de Lisa, ainda por volta das nove e pouco da manhã, e andei sem rumo pelas ruas do Centro. Fazia um calor insuportável e, vagando pelos lotados logradouros do Centro, cheguei a parar para almoçar e tomar um café para dar tempo ao tempo e voltar para casa.
Meu coração disparava somente de imaginar a cena: entrar em meu apartamento e constatar que Lisa e o dinheiro que eu deixei em cima da mesa haviam desaparecido. Cheguei a me arrepender dessa atitude de testá-la, mas não tinha como voltar atrás, e era preciso fazer.
Já era quase quatro da tarde quando decidi ir embora, afinal, Lisa teria tido tempo de sobra para fazer as compras ou fugir com meu dinheiro. Como estava muito quente para ir andando, voltei de táxi.
Entrei em meu prédio e subi no elevador com o coração batendo forte, temendo o que encontraria ao abrir a porta. Constatei que o dinheiro em cima da mesa havia desaparecido, mas o apartamento estava arrumado e um delicioso cheiro de ensopado vinha da minúscula cozinha. Lisa me apareceu com um avental.
– Oi! Você demorou! Dei uma geral neste apartamento, estava uma bagunça. Fiz um jantar. Você precisa se alimentar.
Fiquei muito feliz e aliviado. Só não a abracei de imediato porque precisava postar a “Quarta Epístola”.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Hummm… Ainda não confio nessa Lisa!