Por: Jorge Eduardo Magalhães
Prezado Editor,
Como havia dito na epístola anterior, o menino Gervásio tinha uma enorme admiração e até fascinação pela vida e carisma de Paulinho; aliás, desde que o conhecera, se espelhava nele em todas as suas atitudes, em todos os seus atos. Queria ser igual a ele.
Sabemos que, na infância, brincamos um com o outro, independente de credo, cor ou classe econômica; entretanto, as diferenças vão nos afastando e distinguindo um grupo do outro. Não tem jeito. Isso acontece, desde que o mundo é mundo. Infelizmente, a vida é assim.
Não foi diferente com Gervásio e Paulinho, afinal, o primeiro era sobrinho do zelador do prédio e filho da diarista que prestava seus serviços naquela família, tradicional, com várias gerações de médicos. A própria família de Paulinho fez com que ele se afastasse do filho da empregada.
Isso ficou claro quando Gervásio contou-me que sua mãe parou de levá-lo na casa dos patrões, deixando-o no cafofo onde moravam no prédio e não permitia que brincasse no playground. Quando encontrava Paulinho nos corredores do prédio, este não lhe dava muita atenção, preferindo brincar com os outros colegas da mesma classe social que ele.
Na verdade, Gervásio permaneceu com a mesma fixação em relação à vida de Paulinho. Não que tivesse alguma atração sexual por ele, mas era a vontade de estar no lugar dele, de ser ele. Contando-me isso, percebi que Gervásio seria mais um instrumento para eliminar um ser do mal da face da terra.
Na próxima epístola, revelarei quem era esse Paulinho.
Cordialmente,
O Anjo Epistolar
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
Acessem meu blog: http://jemagalhaes.blogspot.com
Adquiram meu livro UMA JANELA PARA EUCLIDES
editorapatua.com.br/uma-janela-para-euclides-dramaturgia-de-jorge-eduardo-magalhaes/p
Muito sinistro. Quantos loucos existem por aí!