Por: Jorge Eduardo Magalhães
A pessoa que me vendeu os direitos do Patrulha Carioca – que não vou revelar sua identidade – era da família de seu antigo proprietário. Conversamos e consegui, sem pestanejar muito, um valor mais em conta. Realmente, a pessoa devia estar mesmo falida e precisando urgentemente de dinheiro. Fiquei com dó de ver seu apartamento em uma área nobre da cidade estar em um estado deplorável, mas negócios são negócios e não podem ser feitos com o coração.
Finalmente, depois de quase três décadas, tive a honra de reativar o Patrulha Carioca, jornal de cunho sensacionalista, muito popular nas décadas de oitenta e noventa, que retratava crimes, casos sobrenaturais e reportagens de cunho sexual, muitas das quais não muito verossímeis e de fontes poucos confiáveis.
Nesta sociedade atual, da ditadura do politicamente-correto, tive a sensibilidade de perceber que os apreciadores desse tipo de imprensa marrom estavam carentes de um noticiário nessa linha, mas ninguém teve coragem de investir em tal empreendimento. Somente eu.
Como vivemos em tempos da informatização, da mídia digital, pude trabalhar praticamente sozinho em meu jornal na sala do meu apartamento, sem necessidade de uma sede com toda aquela parafernália da antiga imprensa. Apenas eu, com o meu computador poderia fazer com que eu me passasse por diversos colunistas, com toda a veracidade
Soube de alguns vagos rumores (não sei se é verdade) de que um antigo estagiário do jornal, em seus tempos áureos, tentou reativar o Patrulha Carioca, mas desapareceu misteriosamente, sem deixar vestígios. Inclusive, tentei explorar o caso, mas não descobri sua veracidade. Não que eu me importe com veracidade; contudo, achei arriscado tocar neste assunto. Até o sensacionalismo tem o seu limite.
Tinha consciência de que não poderia inventar fatos fictícios como notícias, conforme fazia o jornal antigamente, porque, com a internet e seus sites de buscas, qualquer farsa pode ser descoberta. Precisava agir com bastante cautela, uma vez que o sensacionalismo não poderia mais ser como outrora.
Comecei timidamente, cobrindo algumas notícias sobre a política e o futebol locais, mas dando ênfase a alguns crimes que ocorriam no Grande Rio. Não aqueles casos, não menos trágicos, mas tão corriqueiros em nossa cidade – como mortes por balas perdidas, em que sempre acusam a polícia de ter atirado –, roubos de carros ou latrocínios, mas casos que permitem incrementar certo sensacionalismo.
Para minha integridade pessoal, não usava meu nome no jornal; ninguém sabia quem estava à frente do Patrulha Carioca. Criei nomes para as colunas e o e-mail em que recebia feedbacks sobre o jornal, com comentários críticas e sugestões, era funcional e não o meu particular, mas do próprio jornal, vinculado ao seu portal.
A coluna que mais fez sucesso era a “Crimes chocantes”, em que sempre floreava na linguagem jornalística, apimentando com uma forte apelação emocional e um certo viés literário, típico de narrativas policiais. Sei que estou sendo presunçoso, mas acho que deveria investir na carreira literária.
Posso dizer que meu início foi satisfatório e a reativação do jornal parecia ser um investimento bastante promissor.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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