Por: Jorge Eduardo Magalhães
Já estava amanhecendo. Mesmo com o coração dilacerado, tinha consciência de que precisava trabalhar. Ainda tive a esperança de encontrar Lisa no apartamento, arrependida por toda a sua infantilidade. O coração batia forte no caminho de volta, com tal possibilidade. Ela não estava lá.
Apesar da frustração, tomei meu banho e liguei o computador para iniciar o meu trabalho. Abri a mensagem do Anjo Epistolar e li, com atenção, a “Nona Epístola”:
Prezado Editor,
Imagino a sua curiosidade e de seus leitores acerca da identidade do Monstro de Sepetiba e o envolvimento do medíocre Cabo Gervásio, um dos meus instrumentos neste horrendo caso. Não falarei imediatamente, mas vamos seguir adiante na trajetória do fraco policial militar e sua veneração por Paulinho.
Finalmente, a mãe de Gervásio conseguiu alugar uma pequena casa, com apenas um cômodo, em um subúrbio distante, mas continuou fazendo serviços de diarista para os moradores do luxuoso prédio em que seu irmão era zelador, não levando mais o filho para os locais de trabalho.
Entretanto, Gervásio não perdeu a sua obsessão pela vida de Paulinho, inclusive na adolescência, quando espreitava o prédio em que sua mãe trabalhava para ver Paulinho. Sabia onde o rico rapaz estudava, o clube que frequentava. Vivia a vida do outro.
Enquanto Paulinho estudava em um dos melhores colégios do Rio de Janeiro, em uma vida promissora, Gervásio cursava o supletivo em uma escola pública, no período noturno, e trabalhava em serviços gerais, durante o dia, para ajudar a casa com as despesas.
Gervásio acompanhava todos os seus passos sem que ele percebesse, renunciando a qualquer projeto e à sua própria vida pessoal, inclusive, apaixonando-se por todas as namoradas de Paulinho, inclusive pela última, sua colega na faculdade de Medicina, com quem Paulinho viria a se casar, enquanto Gervásio, sempre solitário, entrava para a Polícia Militar, com o auxílio de um dos patrões de sua mãe, que era coronel na corporação.
O menino Paulinho se tornaria ninguém menos do que o conceituado Dr. Paulo Alberto Junqueira Porto e sua colega do curso de Medicina, com quem se casaria, futuramente e, juntos, abririam uma renomada clínica de estética e cirurgia plástica, Ana Flávia.
Creio que saiba de quem estou falando, afinal de contas, você explorou tanto esses dois nomes em seu jornal. Na próxima Epístola, darei continuidade a esta sórdida narrativa.
Cordialmente,
O Anjo Epistolar
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Muito bom! Sequência de fatos que prendem o leitor pela curiosidade.