Por: Jorge Eduardo Magalhães
Estava em meu canto, formatando a edição do dia seguinte para o Patrulha Carioca. Aguardava, ansiosamente, a próxima epístola. Já estava anoitecendo e Lisa passara o dia inteiro na faculdade (pelo menos era o que dizia) e ainda não havia retornado. Não me importei, pois poderia trabalhar à vontade.
Entre uma coluna e outra sendo formatada, acabei me entretendo com o trabalho e nem vi o tempo passar. Por volta das dez da noite, Lisa chegou, cheia de livros. Estava esbaforida. Imediatamente, minimizei o site do jornal para que ela não visse o que eu estava fazendo.
Disse que precisava tomar um banho, estava exausta. Contou-me que a aula de Literatura Universal fora muito cansativa. Pegou a toalha e entrou no banheiro. Demorou mais de vinte minutos no banho. Aproveitei o seu banho demorado para finalizar o fechamento da edição do dia seguinte.
Novamente verifiquei a caixa de e-mail e o Anjo Epistolar ainda não havia enviado mensagem. Resolvi esperar cerca de meia hora para fechar a pauta, na expectativa de receber mais uma epístola, pois era sempre naquele dia e naquela hora que costumava me enviar. Estava atrasado.
Finalmente, Lisa saiu do banho enrolada na toalha, e novamente minimizei a janela do site do jornal. Voltou vestida com um pijama. Não estava nem um pouco sensual, mas também estava cansada.
– Passou bem o dia? – perguntou.
– Sim. E você?
– Foi cansativo, mas foi produtivo.
– Que bom.
Ficamos calados durante alguns instantes.
– O que você está fazendo?
– Estava verificando a minha caixa de e-mail.
Novamente deu uma pausa.
– Você está acompanhando a coluna do Anjo Epistolar?
Levei um susto quando ela me fez essa pergunta.
– Não. Não me interesso por esse tipo de jornalismo.
– Pois é, foi o assunto do dia lá na faculdade.
Tentei disfarçar meu nervosismo.
– É mesmo?
– Sim. O pessoal gosta da mistura das linguagens jornalística e literária, não só da coluna, mas de todo o jornal.
Fiz um enorme esforço para não mostrar que estava envaidecido.
– Vou dar uma olhada.
– Todos estão querendo saber sobre a morte do Dr. Paulo e sua esposa, do cabo Gervásio, de Conchita e de sua avó e o que todos esses personagens têm a ver com a morte do menino em Sepetiba.
– Na verdade, não estou inteirado.
– Então leia, porque vai gostar. Bem vou comer alguma coisa.
Foi para a cozinha, e eu fiquei cogitando a hipótese do interesse de Lisa pelo Anjo Epistolar ser uma possível indireta.
Aproveitei que ela estava na cozinha e, mais uma vez, verifiquei minha caixa de e-mail. O Anjo Epistolar havia enviado sua “Décima-Segunda Epístola”.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Ela sabe mais do que aparenta. Muito bem tramado!