Por: Jorge Eduardo Magalhães
Ao publicar essa nova epístola no Patrulha Carioca, vieram especulações mais toscas e escabrosas por parte dos leitores: diziam que o Cabo Gervásio para tomar o lugar de Paulo Alberto teria recorrido à feiticeira e ela o mandara assassinar o menino em um macabro ritual de magia negra. Recordo-me de um outro, dizendo que Gervásio mantinha um amor secreto pelo médico, e até que ele queria se transformar em Ana Flávia, sua esposa, para dormir como ele.
Apesar de estar com meu psicológico abalado, desconfiando de tudo e de todos, ao meu redor, sentia um enorme contentamento devido ao fato de a repercussão da coluna do Anjo Epistolar ser grande, o consequente aumento de leitores e de assinaturas era inevitável. Realmente, na parte financeira, aquele era o meu apogeu.
Mais uma vez pensei na hipótese de a minha esposa ter acreditado no meu projeto e, juntos, estarmos contemplando todo aquele sucesso. Respirei fundo e tentei desviar o meu pensamento das recordações de nossos momentos, de sua linda imagem, o que era difícil, principalmente por causa da presença de Lisa, que era sua cópia fiel na juventude.
Estava quase conseguindo me esquecer de todas aquelas péssimas lembranças, quando entrei no quarto e me deparei com Lisa na nossa cama, lendo O Castelo, de Franz Kafka, livro que minha esposa lia quando a matei, inclusive, surpreendentemente, era a mesma edição. Tive uma enorme taquicardia e falta de ar.
– O que você está lendo, Lisa?
– Preciso ler algumas obras de Kafka para a aula de Literatura Universal – respondeu sem desgrudar os olhos do livro.
– Mas logo este livro? Logo Kafka?
– O que você tem contra o Kafka?
– Nada, é que…
– Era o autor preferido de tua ex?
Estava fora de mim, mas tentava disfarçar meu destempero.
– Não é isso. É que este autor, sua temática me deixa angustiado.
Lisa parecia agir com naturalidade.
– Então, pode deixar que vou guardar o livro e não leio mais na sua frente.
Fechou o livro e colocou em sua bolsa.
–Está mais calmo? – perguntou carinhosa.
– Sim.
– Então vamos fazer um lanche?
– Vamos.
Fiquei cogitando a hipótese de Lisa ter pegado aquele livro para me testar. Bobagem! Ela não sabia de nada, tentava dizer para mim mesmo. Algo estranho pairava na atmosfera.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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Hummm… Muita coincidência!