Por: Jorge Eduardo Magalhães
Toda aquela angústia e ideia fixa de estar sendo vigiado, de ter a impressão de alguém sabia sobre meu crime e que Lisa escondia alguma coisa, foram me causando um imenso mal-estar. Em poucos dias, emagrecia a olhos vistos e nada parava em meu estômago.
Provavelmente, devido ao meu estado emocional e à grande carga de estresse, por algo que não tinha certeza se realmente estava acontecendo, fui acometido por um intenso estado febril. Apesar do calor, sentia muito frio e arrepios. A dor no corpo era incômoda. Não conseguia me levantar da cama.
Lisa mostrou-se, verdadeiramente, preocupada, e cuidou de mim com chás e antifebris. Mostrava-se uma legítima esposa preocupada com a saúde de seu cônjuge. Nunca, nem nos primeiros anos de meu casamento, alguém cuidava de mim daquele jeito, com tanto zelo e carinho.
Dentro de meu estado febril, tive delírios e devaneios. Andava, durante a noite, em uma rua deserta e via no final da rua o homem que olhava para minha janela. De longe, permanecia parado com o sorriso fixo para mim. Sentia muito medo, mesmo assim, aproximava-me.
– O que você quer comigo?
– Quero justiça! – respondia.
– Como assim?
– Em nome de todos esses.
Surgia minha esposa, ainda com as marcas no pescoço. A seguir, entravam o cabeleireiro Ed, Ted, O casal Junqueira Porto, Jussara, Joãozinho de Belzebu, Gervásio, Conchita e Manuelita.
– Estou em nome de todos esses! – dizia o homem.
– Mas eu não fiz nada.
– Você tirou a minha vida – dizia minha esposa.
– Eu fiz isso porque estava fora de mim, mas sempre te amei.
Surgia Cardoso com outros policiais.
– Você vai apodrecer na cadeia.
– Mas Cardoso…
De repente, Lisa estava diante de mim.
– Pensou que eu amasse? – deu uma gargalhada – Como você é idiota! Entrei na tua vida para te desmascarar.
Imobilizado pelos policiais, Lisa me dava tapas no rosto.
Acordei de meu delírio com Lisa colocando pano úmido em minha testa.
– A febre vai abaixar, fique tranquilo. Você teve delírio, disse um monte de coisas.
– Que coisas? – perguntei preocupado.
– Não deu para entender, foram frases desconexas.
Deu-me um remédio. Fiquei preocupado com as coisas que poderia ter dito em meu estado febril. Levantei-me. Ainda estava fraco. Peguei o computador e levei para a cama. O Anjo Epistolar havia enviado sua “Décima-Terceira Epístola”.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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A consciência pesada ainda o vai denunciar.