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Por: Jorge Eduardo Magalhães
Nunca gostei de atender ligações privadas. Sempre me trouxeram pavor; mas, mesmo assim, atendi. Ninguém falou do outro lado da linha. Percebi a respiração. Fiquei durante quase um minuto esperando que a pessoa me respondesse, mas permaneceu em silêncio.
Senti uma enorme pavor. Comecei a achar o modo de respirar parecido com o de Lisa (como se houvesse alguma diferença perceptível em respirar), ou talvez, o homem que me espreitou em frente ao meu prédio. Tinha um mau pressentimento naquele telefonema anônimo.
As ligações privadas se tornaram constantes. No início, atendia e tentava falar com a pessoa, que, como sempre, permanecia em silêncio. Por isso, passei a não atender e os telefonemas ficavam cada vez mais constantes. Estava cada vez mais apavorado com aquilo tudo; não eram simplesmente trotes, certamente, existia algo a mais, alguma má intenção.
Tive o impulso de trocar de número de celular; mas, não sei por que, não tive coragem. Temia até dar uma volta pelos arredores de minha rua: tinha a sensação de estar sendo vigiado a todo instante, inclusive, dentro de meu apartamento. Estava, de fato, enlouquecendo.
Tudo aquilo não parecia real, tinha a sensação de estar em um pesadelo, daqueles em que tudo é sombrio e nebuloso. A minha esperança era que, com a minha saída da cidade, toda aquela atmosfera fosse embora e voltasse a viver em um mundo alegre e iluminado, como em meus tempos de colegial. Acho que foi a única época em que, de fato, fui feliz.
Tentei distrair minha mente, trabalhando nas notícias do Patrulha Carioca. Novamente recebi uma ligação privada e não atendi.
NÃO PERCAM O CAPÍTULO DE AMANHÃ.
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