O ANJO EPISTOLAR: CAPÍTULO 94 – Enclausurado

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Estava, há quase uma semana, preso, enclausurado em meu próprio apartamento, sem ter nenhum tipo de contato com o mundo exterior. Não liguei nem a TV, nem o celular e muito menos o computador. Não queria correr o risco de ameaça para postar aquela terrível epístola que me incriminava.

Praticamente não saía da cama, não tomava banho e nem me barbeava. Passava o dia inteiro deitado, só me levantava para ir ao banheiro ou comer algo. A geladeira e a despensa estavam ficando vazias e não sabia como seria quando acabasse de vez os mantimentos.

Minha respiração estava ofegante, uma ansiedade terrível. Tive o impulso de telefonar para o Cardoso e lhe contar toda a verdade e pedir alguma orientação; mas logo desisti da ideia. Cardoso era um policial muito honesto, levava a sério a lei. Por mais que fôssemos amigos, certamente, me denunciaria e me prenderia.

Precisava criar coragem. Pedir um carro no aplicativo, sair correndo e seguir para o aeroporto. Havia uma enorme possibilidade de ser encontrado, mas não tinha outra saída; era preciso arriscar. De nada adiantaria ficar definhando naquele apartamento sem tomar nenhuma atitude.

Era noite. Fugiria dentro de uma hora. Arriscaria. Não acendi as luzes. Cheguei à janela e espreitei pela persiana. Meu coração disparou, o homem de sobretudo olhava para meu apartamento. Quase caí para trás. Precisava manter a calma, o racional superar o passional.

Cheguei à janela de novo e ele não estava mais lá. Foi quando tocou a campainha. Fiquei apavorado. Interfonei para a portaria com o intuito de perguntar quem estava subindo, mas ninguém atendeu. Olhei no olho mágico. O corredor estava escuro, não dava para ver quem tocava, insistentemente, a campainha.

Peguei uma faca na cozinha, pronto para abrir a porta e atacar para me defender. Abri a porta. Não acreditava no que via.

NÃO PERCAM O PENÚLTIMO CAPÍTULO.

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