“Bênça, padrinho!” Essa saudação que constantemente minha avó ouvia com frequência nas ruas de Lorena, especialmente quando o Barão da Bocaina passeava em sua carruagem. Filho da cidade, ele se movia pelas ruas como um verdadeiro senhor, sempre cercado por uma aura de prestígio e respeito. Era comum ver jovens e adultos se aproximando, formando uma roda de afilhados, já que o Barão, como político que era, tinha uma habilidade inata para criar laços e conquistar corações.Naquela época, a vida era bem diferente.
Não havia televisão, muito menos celulares que, convenhamos, poderiam ser considerados os “fakes” de hoje, uma vez que as notícias e promessas se espalhavam com mais força nas conversas e encontros ao vivo. Meu bisavô, que sempre acompanhava o Barão em suas andanças, era testemunha desse cotidiano recheado de histórias e sorrisos.
A maior comunidade negra de Lorena estava na Porteira Preta, uma área que se estendia até a Fonte Lavínia, batizada em homenagem à filha do Barão. Essa fonte, além de ser um local de beleza natural, tinha um significado especial para todos. A Porteira não apenas dividia as terras do Barão com as de Senhor Tomás, mas era também um centro de encontros e promessas políticas. Ali, sob a sombra das árvores e o murmúrio da água, as conversas fervilhavam e os discursos em voz alta moldavam o futuro da cidade.
O Barão, em suas exploratórias, descobriu uma fonte de água que acreditava ter propriedades medicinais. Ele a chamou de “Fonte Lavínia”, uma homenagem à sua filha que decidiu seguir a carreira religiosa. O nome não apenas perpetuou a memória de Lavínia, mas também trouxe um significado especial àquele lugar, que se tornou um símbolo de esperança e prosperidade. Entretanto, a Fonte Lavínia também era um espaço de vida cotidiana. Muitas mulheres negras se reuniam ali para lavar roupas e matar a sede. A cena era um retrato vibrante da vida comunitária: risos, conversas e o som da água jorrando, misturando-se com as histórias que circulavam entre as gerações.
Era um ponto de encontro onde as experiências se entrelaçavam. A presença da comunidade negra em Lorena, especialmente na Porteira Preta, era uma parte vital da história da cidade. Enquanto o Barão fazia promessas e discursos na fonte, as mulheres que lavavam roupas ali traziam uma narrativa de resistência e força, uma história que também precisava ser contada e reconhecida. Assim, o Barão da Bocaina, com sua carruagem e seu jeito de padrinho generoso, tornava-se uma figura emblemática, mas a verdadeira essência da vida em Lorena estava nas vozes e nas mãos daquelas que, na simplicidade do dia a dia, moldavam a história da cidade.
A Fonte Lavínia, com sua água abençoada, mais tarde chamada de Santa Terezinha, tornava-se não apenas um marco da política, mas um símbolo da vida e das histórias que permeiam. E, assim, entre bênçãos e promessas, a vida seguia seu curso, entrelaçando passado e presente, numa dança eterna de memórias e esperanças. Então, esse no lado do Barão é o meu bisavô Armindo Batista.
Denilson Costa.