O 13 de maio começou a dar voz na memória de muitos, como a LIBERDADE! A data é frequentemente celebrada como o marco da abolição da escravidão, um momento épico que deveria, em teoria, simbolizar a libertação e a igualdade. No entanto, ao olhar mais de perto, é impossível ignorar a sensação de que, no dia seguinte, a liberdade não foi totalmente alcançada. Pelo contrário, discutia-se uma liberdade que ainda estava por vir, um sonho que continuava distante.
A abolição, embora significativa, não eliminou as profundas raízes do racismo e da desigualdade que continuam a afetar a população negra brasileira. Após o 13 de maio, as promessas de uma sociedade mais justa e igualitária ainda não se concretizaram plenamente. As palavras de luta e resistência da população negra, que clamava por oportunidades e respeito, ainda se veem em cada canto das cidades, mas sua sonoridade pareceu sofrer com a indiferença de um sistema que continuava a marginalizar. Isabel, a figura central da narrativa oficial, é muitas vezes lembrada como a “benfeitora” que assegurou a liberdade.
Mas essa é uma história que não leva em conta as lutas reais e pulsantes de homens e mulheres que se levantaram contra a opressão. Entre eles, Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, um nome que deveria estar nas bocas de todos, mas que muitos ainda desconhecem. O Dragão do Mar de Aracati não apenas marchou; ele inspirou uma revolução silenciosa, lutando não apenas pela sua liberdade, mas pela dignidade de toda uma comunidade.
Em 30 de agosto de 1881, Chico e um grupo de jangadeiros decidiram que não iriam mais transportar negros escravizados. Em um ato de coragem e um apelo pela justiça, pararam o embarque de mercadorias, desafiando as normas estabelecidas. O que começou como uma greve se transformou em um levante, não apenas nas águas do Ceará, mas também nas expectativas de um povo que desejava ver a cor da sua pele não ser a razão de sua escravidão, mas sim um motivo de orgulho. E o exemplo dos jangadeiros foi imitado.
Em 1883, os “catraieiros” do Amazonas, desempenhando funções semelhantes, paralisaram o transporte de escravizados, atolando o tráfico que os levava para as lavouras do Sudeste. Essas batalhas coletivas não foram apenas exemplos de resistência; foram demonstrações concretas de que a luta não é apenas uma questão individual, mas uma corrente que une consciências e gera mudanças. O que a história oficial normalmente ignora é que a abolição da escravidão não foi um ato de bondade da Princesa Isabel, mas sim o resultado de uma luta persistente por liberdade. Cearenses e amazonenses conquistaram a abolição da escravidão em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea em 1888. Lembrar esse feito é fundamental, pois só assim podemos entender que a luta pela igualdade não se resume a uma assinatura, mas é um movimento contínuo que exige vigilância e ação.
O dia depois do 13 de maio não é um dia de celebração, mas de reflexão. É uma oportunidade para reconhecer que a liberdade e a igualdade ainda estão sendo almejadas e, mais importante, que o exemplo de luta dos nossos antepassados deve servir como um guia. Lembrar que a emancipação da comunidade negra não é apenas uma questão histórica; é uma questão atual, onde o combate ao racismo e às desigualdades deve continuar sendo uma prioridade em nossa sociedade. Porque, ao final, é verdade que quem luta conquista, e que a luta é a única via para a verdadeira liberdade.
Denilson Costa