O DOCE SABOR DA MIQUELINA: CAPÍTULO 23 – O hóspede

Por: Jorge Eduardo Magalhães

Decidiu primeiro voltar ao hotel para descansar um pouco. Depois iria ao bar do Toninho tentar comprar a arma. Ao entrar no hotel, no Centro, deu-se conta de que se tratava de uma verdadeira espelunca, mas, pelo menos, os quartos eram limpos. Tomou um banho naquele banheiro sem nenhum obstáculo (estava desacostumada com tanta limpeza).

Após meia hora no banho, ainda nua, deitou-se e deu um relaxante cochilo. Sonhou com sua infância, com as festas juninas em sua casa, quando tudo lhe parecia perfeito e sua família maravilhosa. Tempos marcantes e inesquecíveis. Faria tudo para voltar ao passado.

Despertou, escutando ruídos de passos no corredor, aproximando-se. Levantou-se e se vestiu apressadamente. Abriu a porta e o desconhecido estava abrindo o seu quarto, que ficava ao lado do seu. Observou melhor aquele homem, que era muito bonito e charmoso. Ana Flor deu um sorriso.

– Boa tarde.

– Boa tarde! – disse o desconhecido.

– Desculpe. É que deu a impressão de que estavam mexendo na minha porta… – justificou Ana Flor.

– Sem problemas, foi até bom você ter aberto a porta.

Ana Flor sentiu o tom sedutor do desconhecido.

– Sério?

– Hoje pela manhã a vi, e você parece de confiança para me dar informações sobre a cidade.

– Você não é daqui?

– Não. Sou de São Paulo, mas vivo em Brasília.

– O que veio fazer aqui?

– Na verdade, trabalho no Ministério da Educação e vim aqui apurar algumas denúncias.

– Nossa! Sou professora

– Eu também, mas estou há algum tempo fora de sala de aula, trabalhando só no Ministério.

– Qual o teu nome?

– Renan. E o teu?

– Ana Flor.

– Lindo nome.

– Obrigada. O teu nome também muito bonito, é forte, marcante. Não quer entrar um pouco?

– Se não incomodar…

– Será um prazer.

Timidamente, Renan entrou e se sentaram na cama do pequeno quarto, um de frente para o outro. Em pouco tempo, conversaram como se fossem velhos conhecidos. A química entre os dois foi instantânea e contavam, com desembaraço, detalhes sobre suas respectivas vidas.

Renan era um ano mais velho do que Ana Flor, divorciado e tinha um filho de dez anos, que vivia com a mãe, em São Paulo. Era formado em Pedagogia, tinha mestrado em Educação e estava vivendo em Brasília há cinco anos, desde que assumira um cargo no Ministério da Educação.

Surpreendentemente, Ana Flor não teve vergonha de contar detalhes sobre sua vida e sua família disfuncional. Sem nenhum constrangimento, revelou-lhe sobre seu desastroso relacionamento com José Roberto, que ocasionou na impossibilidade de continuar sua faculdade de Pedagogia.

– Mas você deveria terminar a faculdade.

– No momento, é impossível.

– Até quando você vai adiar este sonho?

– Na verdade, nem acredito mais se conseguirei.

– Vai sim.

– Como?

– Porque irei te ajudar.

– Me ajudar?

– Sim, conseguirei uma bolsa para você, pelo Ministério.

– Sério?

– Sim. Sabe, quando conhecemos uma pessoa e temos a impressão de que a conhecemos há muito tempo?

– Sei como é.

– É o que está acontecendo comigo em relação a você.

– O mesmo está acontecendo comigo.

Ficaram alguns segundos em silêncio, olhando um para o outro. As mãos se tocaram lentamente, finalmente, o beijo. Em pouco tempo, estavam nus na cama, entregando-se um ao outro. Fizeram um amor, como se conhecessem intimamente um o corpo do outro. Ana Flor, nunca em sua vida, havia sentido tamanho prazer.

Ficaram abraçados durante algum tempo. Renan acendeu um cigarro.

– Quero te fazer um convite.

– Faça! – disse Ana Flor.

– Promete que não vai me achar louco?

– Diz.

– Quer ir para Brasília comigo?

– O quê?

– Quer ou não quer?

– Não sei dizer…

– Você não queria se afastar da sua família?

– Mas eles precisam de mim.

– Todo mundo se vira.

– Você acha?

– Sim, com certeza. Se você ficar convivendo com essas pessoas que só colocam para baixo, vai acabar adoecendo.

– Acho que já adoeci.

– Quero que seja feliz ao meu lado.

– É o que eu mais quero!

– Você merece ser feliz.

– Mas e meu emprego?

– Consigo que fique cedida em alguma escola do Distrito Federal. Você vai adorar trabalhar lá. Ainda terá tempo para recomeçar a faculdade. Quero ver você muito bem- sucedida.

– Seria um sonho.

– Então vamos, querida. Preciso apenas terminar o meu trabalho aqui para irmos embora.

– Mas o que você veio fazer aqui, de fato?

– Na verdade, vim apurar, não só aqui no Rio, mas também em outros estados, denúncias de irregularidades em escolas municipais, principalmente, em relação à coação eleitoral e desvio de verbas. Estamos trabalhando junto com as secretaria de educação, estaduais e municipais.

– Será que minha escola está na lista?

– Qual o nome da tua escola?

Ana Flor falou o nome da escola, e Renan deu um sorriso bem de leve, meneando a cabeça.

– Nossa! Você trabalha lá?

– Sim.

– Tua escola está encabeçando a lista.

Ana Flor, finalmente, sentia-se vingada. Não precisaria tomar a atitude drástica que havia pensado há apenas algumas horas atrás. Dona Ivone, muito em breve, seria desmascarada.

– Você confiou muito em mim.

– Sim, querida! Sei que posso confiar.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Quantas quiser.

– Por que ficou hospedado neste hotel tão barato?

– Justamente para não chamar atenção. Você nem imagina, esses grupos que monopolizam as verbas de merenda são verdadeiros cartéis, isso para não chamar de quadrilha.

– Então quando viajaremos?

– Dentro de uma semana.

– Só pegarei minhas coisas e trago para cá, para não precisar mais voltar em casa.

– Faça isso. Amanhã ligarei para o Secretário Distrital de Educação para conseguir teu desvio.

– Nossa! Parece um sonho!

– Mas, vamos dar um passeio?

– Ficarei muito feliz.

Beijaram-se e, novamente, recomeçaram as carícias. Ana Flor quase explodia de felicidade, apesar do temor da possibilidade de estar sendo ludibriada outra vez.

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2 Comentários

  1. Avatar

    Até que enfim, a coitada parece ver uma luz !

  2. Avatar
    ALVIMAR DO NASCIMENTO

    Espero que não seja outra furada.

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