Por: Jorge Eduardo Magalhães
– Aonde nós vamos? Quer ir a Copacabana?
Renan sorriu:
– Não. Irei te levar a um recanto aqui perto, praticamente desconhecido. Você que é carioca não conhece.
– Nossa! Estou curiosa.
Andaram por algumas ruas atrás do hotel, repleto de sobrados velhos. Ana Flor ficou preocupada:
– Aonde você está me levando?
– Relaxa. Não precisa se preocupar.
– Estou confiando em você.
– Você irá adorar.
Segurando de leve a mão de Ana Flor, Renan foi guiando-a. Viraram uma rua à direita e Ana Flor estava encantada com o que via:
– Nossa! Que lugar lindo!
– Um recanto nosso! Só nosso!
Trocaram um longo e apaixonado beijo.
Ana Flor estava encantada com aquele lindo parque, na verdade, um bosque, com uma linda cachoeira, bem no centro da cidade.
– Estranho isso.
– O quê?
– Nunca vi nem ouvi falar deste lugar aqui, no meio de uma localidade tão esquecida e abandonada.
– Agora conhece. Gostou?
– Estou adorando.
– Por isso que, toda vez que eu venho ao Rio, fico hospedado neste hotel. Além de ser discreto para meu trabalho e ter um preço acessível.
– Também por ficar perto deste lugar lindo.
– Principalmente por isso.
– Estou tão feliz por ter conhecido você!
– Agora fazemos parte da vida um do outro.
– Sou tua!
– Sou teu!
Beijaram-se novamente.
O casal apaixonado, finalmente, encontrava a felicidade um no outro. Ana Flor pensava nos anos em que vivera na solidão, sempre sendo massacrada pelas pessoas do seu convívio. Olhava a natureza daquele local, em meio ao caos da cidade; tudo na mais perfeita sintonia. Aquele lugar era perfeito; aliás, tudo lhe parecia perfeito. Uma perfeição tão incrível que chegava a assustá-la.
Sentaram-se na grama, às margens do lençol d’água onde desaguava a pequena cachoeira e, de uma bolsa, Renan tirou uma garrafa de espumante com duas taças. Encheu os copos, brindaram e, logo ao beberem, trocaram outro beijo apaixonado naquele cenário paradisíaco.
– Como se chama este local? – perguntou Ana Flor.
– Ainda não tem nome. É um local praticamente desconhecido.
– Mas como um local dentro do centro da cidade pode ser desconhecido? Logo um local tão bonito quanto este.
– Mistérios da vida. Posso te pedir uma coisa?
– Claro.
– Dê o nome para este lugar.
– Eu?
– Sim.
– Quanta honra!
– Então, tenha a gentileza.
– Deixe-me ver.
Ficou pensativa durante alguns minutos.
– Decidiu?
– Acho que sim.
– Então diz.
– Parque das Paixões, o que acha?
– Um lindo nome!
– Que bom que gostou.
– Linda como você!
Novamente se beijaram. O telefone de Renan tocou.
– Só um instante, querida.
– Está bem.
– Sim… – disse Renan, falando com alguém no telefone.
Afastou-se um pouco de Ana Flor e conversou algo com a pessoa. Não demorou muito e voltou.
– Algum problema? – perguntou Ana Flor.
– Era lá do Ministério. Só pediram para tomar cuidado com a diretora da tua escola. Parece que ela tem envolvimento com o tráfico e até com prostituição de menores.
– Mas isso é caso de polícia.
– Assim que apurarmos, encaminharemos aos órgãos competentes.
– Toma cuidado então, amor.
– Pode deixar. Ah! Tenho boas notícias.
– Diz.
– Já havia mandado mensagem ontem para meu superior, lá no Ministério e ele disse que é possível você ficar cedida em uma escola no Distrito Federal. Será uma escola lá em Sobradinho. Aliás, uma escola super organizada. A diretora faz um trabalho de excelência.
– Quando eu começo?
– Na semana que vem, assim que chegarmos.
– Que maravilha!
– Seremos muito felizes!
– É maravilhosa essa nossa química imediata, essa nossa cumplicidade.
– Até te conhecer, eu não acreditava em amor à primeira vista.
– Nem eu.
– Agora teremos uma vida nova.
– Uma nova etapa de nossas vidas… – completou Ana Flor.
– E você vai se livrar de todas essas pessoas tóxicas com quem conviveu durante anos.
– Finalmente. Já estava perdendo a esperança.
– Agora tem alguém para cuidar de você.
– E eu também cuidarei de você.
– Vamos voltar para o hotel?
– Sim.
Caminharam de mãos dadas até o hotel, que ficava a poucos metros do local. Foram para o quarto de Ana Flor.
– Sou louca por você!
– Te amo – disse Renan.
– Está sendo tudo tão rápido, que até fiquei assustada.
Renan riu com leveza.
– Confesso que também fiquei assustado. As coisas estão acontecendo muito depressa.
– Pois é.
– Mas está sendo maravilhoso.
– Estou tão feliz!
– E eu quero te fazer feliz.
Beijaram-se loucamente e novamente fizeram amor. Ana Flor sentiu um enorme prazer, como nunca havia sentido antes. Torcia para que aquele momento demorasse o maior tempo possível. Chegaram ao orgasmo praticamente ao mesmo tempo, e dormiram abraçados. Ana Flor sonhava com a sua nova vida em Brasília. Acabou caindo em um sono profundo.
Seu corpo estava completamente relaxado. Foi despertando aos poucos. Percebeu que Renan não estava mais ao seu lado. Devia ter ido ao banheiro no seu quarto ao lado, pegar algumas roupas. Ainda de olhos fechados, suspirava apaixonada. Nunca, em toda a sua vida, havia sido tão feliz.
Levou um susto ao abrir os olhos. Não estava mais no quarto de hotel. As paredes e o teto eram brancos. Sua prima Sandra a observava de pé.
NÃO PERCAM O PENÚLTIMO CAPÍTULO.
Acessem meu blog: http://jemagalhaes.blogspot.com
Adquiram meu livro UMA JANELA PARA EUCLIDES
editorapatua.com.br/uma-janela-para-euclides-dramaturgia-de-jorge-eduardo-magalhaes/p
Ah, só podia ser um sonho. Estava muito bom pra ser verdade!
Mas que droga, agora que melhorava. Era sonho.