O DOCE SABOR DA MIQUELINA: CAPÍTULO 25 – Despertar

Por: Jorge Eduardo Magalhães

– Você está bem? – perguntou Sandra.

– Onde eu estou? – perguntou Ana Flor, assustada.

– Você está em um hospital.

Ana Flor havia demorado a se dar conta de onde estava.

– Como eu vim parar aqui?

– Você saiu de casa, foi àquele hotel horrível, depois saiu e voltou para lá.

– Sim. Fiz isso mesmo. Fui trabalhar e depois voltei.

– Já fazia três dias que você não saía do quarto.

– Como assim?

– Os funcionários do hotel ficaram preocupados e abriram a porta com uma chave reserva, e você estava lá, adormecida. Não conseguiram te acordar, provavelmente, porque você estava muito fraca e chamaram uma ambulância. Viram o meu número no teu aparelho e resolveram me ligar.

– E o Renan? Onde está?

– Que Renan?

– O meu namorado. Nós nos conhecemos no hotel. Ele estava hospedado no quarto ao lado.

– Mas não tinha nenhum lá.

– Você está me enganando.

– Aquela espelunca está à beira da falência. Só tinha você hospedada lá e uma prostituta, no andar de cima, que recebe seus clientes lá no quarto.

Ana Flor começou a perceber a gravidade daquela situação.

– Eu quero falar com o Renan!

– Não tem nenhum Renan.

Começou a se desesperar.

– Eu quero sair daqui!

– É melhor você se controlar, prima.

– O que vocês fizeram com o Renan?

– Você delirou, com a febre e ficou chamando esse nome Renan o tempo inteiro e dizia sobre um tal lugar, como era mesmo o nome?

– Parque das Paixões.

– Isso mesmo!

– Foi onde o Renan me levou, perto do hotel, um lugar lindo, com cachoeira.

– Prima, você está delirando. No entorno do hotel só tem prédios velhos.

– Mentira! O que vocês fizeram com o Renan?

Sandra olhou bem nos olhos de Ana Flor, com tom ameaçador.

– Se você ficar inventando essas histórias, eu te juro, que você irá sair daqui direto para o sanatório.

– Você está me ameaçando?

Sandra deu um sorriso meigo para Ana Flor.

– Claro que não, prima. Mesmo porque você não vai mais falar sobre isso, não é mesmo?

Ana Flor percebeu que era mais prudente se calar. Sandra continuou:

– O médico já vai te dar alta.

– Estou faltando o trabalho.

– Não tem problema. Já falei com a Dona Ivone e ela irá abonar as tuas faltas! Realmente, ela tem o coração enorme. E você vai tirar uma licença, o médico vai te dar um laudo.

Percebia algo de muito estranho por trás daquilo tudo. Precisava se livrar de sua prima e procurar Renan. Fingiria que estava aceitando aquela situação e procuraria seu amado, assim que pudesse.

Finalmente, teve alta e um dos seguranças de Sandra e Paolo a levou em um carro para casa. Logo ao parar o carro no portão, teve a impressão de que tudo estava ainda mais bagunçado. Logo na porta, um cartaz escrito “Miquelina Filmes”, com a logomarca igual ao rótulo.

Dona Evarista parecia ainda mais obesa e se deliciava com um Miquelina Uva. As latas e garrafas vazias do refrigerante se espalhavam por toda a casa.

– Pensei que não fosse voltar mais.

Ana Flor permaneceu calada.

– Ainda bem que não estou precisando do seu dinheiro. Não sei o que seria de mim se não fosse a Sandrinha.

Levou um susto quando se deparou com Dona Ivone conversando com Paolo, no quarto de Margarida, onde eram realizadas as filmagens. Estava junto com uma adolescente que parecia conhecer de algum lugar.

– Dona Ivone?

– Oi, Ana Flor. Como você está?

– Indo, na medida do possível.

– Sabia que você voltaria e queria saber como você está.

– Lembra da Jenifer?

– Jenifer?

– Foi tua aluna, na segunda série.

– Ah, sim. Como você está?

– Estou bem, professora.

– Você já está no Ensino Médio?

– Não. Parei no sexto ano, mas estou querendo voltar no ano que vem. – disse sem muita convicção.

– A Jenifer quis te ver. Gosta muito de você.

– Que bom… – disse Ana Flor, sem muita convicção.

Dona Ivone prosseguiu em seu discurso:

– Vim aqui para te visitar e lhe dizer que você pode descansar à vontade. O médico te deu um mês de licença, mas você só precisa retornar no ano que vem. Tente se recuperar primeiro.

– Muito obrigada, Dona Ivone – havia um tom sarcástico em sua voz, que Dona Ivone fingiu não entender.

A justificativa para a presença daquela menina não foi muito convincente para Ana Flor. A visita de Dona Ivone não também não foi convincente, mas nem tinha como pensar direito, estava exausta. Precisava descansar. Depois colocaria as ideias no lugar e decidiria o que fazer.

Margarida e Brenda apareceram usando lingeries da mesma cor e modelo. Ana Flor decidiu se trancar no quarto para não presenciar aquela cena. O cheiro de excremento de gatos, em seu quarto, estava insuportável. A sua ausência fez com que as coisas piorassem ainda mais.

Não saiu mais do quarto, naquele dia e, ardeu de febre, durante a madrugada. A imagem de Renan vinha sempre em sua mente. Precisava encontrá-lo, saber por onde andava. Estava tão encantada com aquela paixão que até esquecera de pegar o número de seu telefone.

Tinha vontade de retornar àquele hotel e pedir alguma informação sobre Renan. E se estivesse enlouquecendo? E se Renan e o Parque das Paixões, realmente, nunca existiram. Tinha um enorme receio de que sua prima estivesse falando a verdade. Não era possível. Renan era real, trocaram carícias, fizeram amor, sentiu um enorme prazer, como nunca havia sentido antes, nem com José Roberto nem com Robson. Todos aqueles breves momentos maravilhosos haviam acontecido, de fato.

Foi melhorando da febre e se levantou da cama. Ao despertar, sentia-se uma enorme pessoa, não estava alegre, mas não emanava mais aquela tristeza e angústia que a acompanhavam há anos. Era como existisse um vazio dentro dela, uma verdadeira ausência de sentimentos.

Levantou-se lentamente e andou pelo quarto. Abriu a porta. O número de felinos pela casa parecia ter triplicado, mas isso também não a incomodou mais. O cheiro também parecia ter entranhado em seu nariz e se tornado algo comum. Suas narinas, milagrosamente, estavam acostumadas.

Novamente, deu de cara com Dona Ivone no corredor. Sua mãe assistia TV, bebendo um Miquelina Cola. Olhou para o quarto de Margarida e Brenda. Estavam sendo realizadas as filmagens. Não acreditava no que via.

NÃO PERCAM O ÚLTIMO CAPÍTULO.

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2 Comentários

  1. Avatar
    ALVIMAR DO NASCIMENTO

    Tudo voltou a ser o que era.

  2. Avatar

    Parece que a Flor se acostumou com a situação.

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