Em um mundo onde o poder é frequentemente associado a gritos, autoridade e controle, há uma sutil ironia nas figuras que, mesmo sem um título, uma posição ou um aparato burocrático, exercem um poder imensurável. O poder que não tem. Esse é o poder do silêncio, da escuta, da empatia. Um poder que, em sua essência, reflete a verdadeira força humana.
Pense na professora que, com sua voz suave e sua paciência infinita, consegue transformar a vida de crianças que muitos já consideram perdidas. Ela não tem o poder de mudar o sistema educacional de uma só vez, mas em sua sala de aula, ela é uma rainha. Com um olhar compreensivo e palavras de encorajamento, ela planta sementes de esperança e faz brotar sonhos onde antes havia desilusão.
E há também o poder da avó que, em sua cozinha, com o aroma do tempero caseiro, reúne a família em torno da mesa. Ela pode não ter um cargo de liderança, mas sua capacidade de unir, de acolher e de amar é um poder que transcende qualquer hierarquia. Em cada prato que serve, em cada história que conta, ela transmite valores que moldam a identidade da família, criando laços que resistem ao tempo.
Na rua, temos os ativistas que, sem megafones ou palanques, lutam por justiça social. Eles não possuem o poder dos políticos, mas carregam em seus corações a determinação de promover mudanças. Com cada passeata, cada carta escrita, cada conversa compartilhada, eles desafiam a apatia e inspiram outros a se levantarem. Eles demonstram que o poder não está apenas em quem decide, mas também em quem se recusa a ficar calado diante da injustiça.
E há aqueles que, em sua simplicidade, transformam o cotidiano. O vizinho que ajuda a cuidar das crianças, a amiga que está sempre disposta a ouvir, o desconhecido que oferece um sorriso no momento certo. Esses gestos, muitas vezes ignorados, têm um impacto profundo nas vidas das pessoas ao seu redor. Eles criam um ambiente de apoio e solidariedade, mostrando que o verdadeiro poder reside nas conexões humanas.
Mas, ironicamente, a sociedade frequentemente valoriza o poder que se impõe, que grita e que controla. O poder que não tem aquele que se expressa através da gentileza, da generosidade e da compreensão é frequentemente subestimado. Em um mundo obcecado por status e influência, muitas vezes esquecemos que as ações mais significativas não vêm de quem está no topo, mas de quem, com humildade, se dedica a fazer a diferença no cotidiano.
Assim, enquanto caminhamos por este mundo, é fundamental lembrar que o poder que não tem pode ser o mais transformador de todos. Ele reside em nós: nas nossas pequenas ações, nas nossas escolhas diárias, no modo como tratamos os outros. Se pudermos valorizar e cultivar esse poder, estaremos contribuindo para um mundo onde a empatia e a solidariedade prevalecem sobre a opressão e a indiferença.
E, ao final de cada dia, quando olharmos para trás, que possamos nos orgulhar não apenas do que conquistamos, mas do poder que exercemos em nossas interações, nas nossas comunidades e em nossos corações. Porque, afinal, o poder que não tem é aquele que mais precisa ser celebrado e cultivado.
Denílson Costa