Viola e John Boyega rei e figura real do filme Ilze Kitshof Sony Pictures.

O Tumbeiro não volte mais

“O tumbeiro não volte mais” é uma expressão que reflete o repúdio e a condenação ao comércio transatlântico de escravos e à prática desumana do transporte forçado de africanos para o Brasil durante o período da escravidão. O termo “tumbeiro” era utilizado para se referir aos navios negreiros que transportavam os escravos africanos em condições desumanas e cruéis.

A frase expressa o desejo de que esse capítulo vergonhoso da história não se repita, que a humanidade não volte a cometer os mesmos erros e atrocidades do passado. Ela ressalta a importância de reconhecer e repudiar os horrores do comércio de escravos, lembrando-nos da crueldade e da injustiça que foram infligidas aos milhões de africanos que foram escravizados e submetidos a condições desumanas.

Ao dizer “o tumbeiro não volte mais”, estamos reafirmando nosso compromisso com a defesa dos direitos humanos, da igualdade, da liberdade e da dignidade de todos os seres humanos. É um apelo à consciência coletiva para que nunca mais se permita que a ganância, o preconceito e a desumanidade prevaleçam sobre a justiça, a solidariedade e o respeito mútuo.

O tráfico de escravos no Brasil foi uma prática brutal e desumana que marcou profundamente a história do país. Durante mais de três séculos, milhões de africanos foram capturados em suas terras de origem, transportados à força para o Brasil e submetidos à escravidão em condições deploráveis.

O comércio transatlântico de escravos teve início no século XVI e perdurou até o século XIX, transformando o Brasil em um dos maiores destinos de escravos africanos no Novo Mundo. Os traficantes de escravos, comerciantes europeus e africanos, capturavam e negociavam seres humanos como mercadorias, visando suprir a crescente demanda por mão de obra nas plantações de cana-de-açúcar, café, ouro e outras atividades econômicas do período colonial e imperial.

Os escravos eram submetidos a condições desumanas durante a travessia transatlântica, conhecida como “Tráfico de Cativeiro”, em que eram amontoados em porões de navios superlotados, sofrendo maus-tratos, doenças, fome e morte. Muitos não sobreviviam à viagem, sendo lançados ao mar ou enterrados nas profundezas dos oceanos. No período da escravidão surge Francisco Félix de Souza, conhecido como Dom Chachá, um importante comerciante e figura histórica do período colonial brasileiro, atuando principalmente na região que compreende o atual estado do Benin, na África, e a cidade de Ouidah, no antigo Reino do Dahomey. Sua história é marcada por uma trajetória empreendedora e controversa, que o tornou uma figura de destaque no comércio de escravos e nas relações entre o Brasil e a África.

Dom Chachá era conhecido por sua habilidade nos negócios e sua influência na região, estabelecendo laços comerciais e políticos com autoridades locais e europeias. Ele se destacou no comércio de escravos, atuando como intermediário entre os traficantes de escravos africanos e os compradores brasileiros, especialmente na cidade de Salvador, na Bahia.

Apesar de sua influência e prosperidade no comércio de escravos, Francisco Félix de Souza também é lembrado por sua participação em eventos históricos controversos, como a Revolta dos Malês, em 1835, em Salvador, onde ele foi acusado de fornecer informações às autoridades coloniais sobre os planos de rebelião dos escravos africanos muçulmanos.

Dom Chachá era uma figura complexa, que transitava entre os interesses comerciais, políticos e sociais da época. Sua história reflete as contradições e dilemas do período colonial brasileiro, marcado pela exploração, opressão e violência do sistema escravocrata, mas também pela presença de indivíduos que se destacavam em meio a esse contexto desafiador.

Apesar das controvérsias que cercam sua figura, Francisco Félix de Souza, o Dom Chachá, permanece como um personagem importante na história do comércio de escravos e nas relações entre o Brasil e a África, representando uma parte significativa do legado histórico e cultural que influenciou a formação do Brasil como nação. No Brasil, os escravos africanos eram considerados propriedade de seus senhores, privados de liberdade, dignidade e direitos básicos. Eram submetidos a trabalhos exaustivos, castigos físicos, separação de suas famílias e condições de vida degradantes. A brutalidade do sistema escravocrata deixou marcas profundas na sociedade brasileira, que ainda reverberam nos dias de hoje.

O tráfico de escravos foi oficialmente abolido no Brasil em 1850, mas a escravidão só foi extinta em 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Apesar disso, as sequelas desse período de exploração e violência ainda são visíveis na discriminação racial, nas desigualdades sociais e nas injustiças que persistem na sociedade brasileira, exigindo um constante trabalho de reconhecimento, reparação e justiça para com aqueles que foram vítimas desse crime contra a humanidade. Essa expressão nos lembra da importância de aprender com os erros do passado, de reconhecer as injustiças cometidas e de trabalhar para construir um mundo mais justo, inclusivo e igualitário para todos. É um lembrete de que a história não pode ser esquecida, mas sim confrontada, para que as lições do passado possam nos guiar em direção a um futuro melhor, onde a dignidade e os direitos de cada indivíduo sejam respeitados e protegidos.

 

Denílson Costa

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