Por: Jorge Eduardo Magalhães
Lembro bem da fisionomia gorducha e corada daquele rapaz dono de um bar que eu sempre parava para beber algo. O seu nome não me vem à memória, quase não conversávamos embora ele fosse muito simpático comigo. Um dia, ao pedir uma cerveja, ele desabafou.
– Você escreve, não é mesmo? Deveria escrever um livro contando a minha história. O nome do se chamaria O último homem otário do mundo, disse com raiva, há uns dois anos atrás, conheci aquela mulher no carnaval de Salvador. Tinha de ver o estado dela, magra, maltratada. Trouxe-a para cá junto com a sua filha, na época com cinco anos. Quando estava muito bem instalada na minha casa, o canalha do pai da filha dela apareceu e ela voltou para Salvador com ele. Fiquei arrasado. Três meses depois ela me ligou a cobrar dizendo que estava abandonada e passando necessidade.
Fui a Salvador, cuidei dela e quando estava melhor, trouxe-a junto com a menina, que sempre jogava na minha cara que eu não era pai dela. Comprei roupas novas para as duas. Algum tempo depois, a história se repetiu: ela voltou para Salvador, só que dessa vez, não fui lá, apenas paguei a passagem das duas de volta. Semana passada, depois de estar recuperada, o canalha ligou a cobrar para minha casa, ficaram conversando uma hora no telefone. A conta veio exorbitante. Voltaram para Salvador. Tomei vergonha, nunca mais quero olhar na cara daquelas duas.
Quinze dias depois voltei e ele tinha vendido o bar. Foi morar em Salvador.
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