O velório

Por: Jorge Eduardo Magalhães

O despertador toca. Abre os olhos, não consegue se mexer. Tenta gritar, mexer alguma parte do corpo. Tudo em vão, está imóvel. A mulher anda de um lado para outro dizendo que ele chegará atrasado no trabalho. Continua estático. A mulher percebe que está paralisado. Friamente comenta com a mãe que ele deve estar morto.  Tenta desesperadamente dar algum sinal de vida. Chama o médico da rua, um bêbado ordinário. Dá o documento para pegar o atestado de óbito. Quer gritar, dizer que está vivo. Nem a mulher nem a sogra olham para ele. Parecem tentar disfarçar a satisfação. A polícia faz a ocorrência. Um agente funerário mostra para a “viúva” um catálogo de preços, escolhe o caixão mais barato e uma cova rasa para ser enterrado no chão. Ordinária, pensa em gritar.

O velório é breve. Apenas meia dúzia de pessoas contando a sogra e a esposa. Nenhum choro. Concentra-se o máximo para esboçar algum sinal de vida e não ser enterrado vivo. Finalmente consegue mexer os olhos, mas já é tarde, o caixão acaba de ser fechado.

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