Desde meados do século XVIII, escravizados de diferentes etnias concentrados em Buenos Aires formaram comunidades que dançavam, entoavam canções ancestrais, adornavam altares e reverenciavam deuses ao som de tambores. Esses grupos deram origem ao chamado “candombe”, que no idioma Bantu significa “rezar aos deuses”. Os candombes dispunham de diversas expressões e rituais religiosos conectados às diferentes tradições africanas, como o coroamento de reis e rainhas negros.
O candombe foi uma expressão de solidariedade e um esforço para conectar pessoas roubadas de várias nações africanas que foram escravizadas. Ao longo dos anos, o candombe foi transformando-se e ganhando diversos significados, combinando períodos de legalidade e proibição sancionados pelos poderosos senhores escravistas.
A herança cultural é muito poderosa. A dança argentina por excelência que é o tango, tem claramente origens negras.
O desaparecimento do negro é um dos mistérios mais intrigantes da história Argentina, o declínio do tráfico de escravos depois da abolição da escravatura em 1813. Com consequência das guerras da independência, nas quais combateram espanhóis, indígenas, brasileiros e paraguaios, bem como milhares de soldados afro-argentinos que teriam morrido em batalha.
As mulheres negras e mestiças, a fim de melhorar sua mobilidade social, teriam se dirigido a homens brancos para ter filhos de pele mais clara, tudo pela influência da EUGENIA; argumento refere-se às baixas taxas de natalidade e às altas taxas de mortalidade resultantes das condições econômicas e sociais precárias da população negra. Seu desparecimento teria culminado, como um golpe de graça, com a epidemia da febre amarela de 1871.
Na Argentina, existem as categorias “negro de pele” e “negro de alma”. O negro de pele refere-se ao fenótipo negro, visto como aquele que vive somente em outros países latino-americanos como Brasil, Uruguai, Cuba etc. Seus traços deixaram de ser visíveis para se transformar em genótipos não visíveis, e a negritude se converteu em algum ponto em condição de espírito. Na Argentina, fala-se de uma pessoa “negra de alma” quando sua conduta é considerada inapropriada, de mau gosto, sexualizada, supostamente primitiva, não civilizada.
A provocação, a inquietação, imposta de submissão e de escravidão disfarçada, reforçada por uma democracia racial existente no país. Os extremos marcam as relações do negro com a ordem étnica existente ou invisível
Em 1877, inspirados no candombe, negros inventaram uma dança que denominaram “tango”. Há teorias de que o termo seria derivado do nome de Xangô, orixá do trovão e patrono da música para os iorubás. Outras vertentes estão seguras de que suas origens são frutos da cultura do Congo, na África Central.
Denilson Costa