Nesta sexta-feira, 30 de maio, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um forte apelo para que a África assuma seu papel de destaque como a “potência de energia limpa do mundo”. A declaração ocorreu durante a abertura do Diálogo Político de Alto Nível da Série de Diálogos sobre a África de 2025, onde Guterres abordou o tema “justiça para os africanos e pessoas de ascendência africana por meio de reparações”.
Justiça Energética e Fim da Exploração de Recursos Naturais
Guterres ressaltou a necessidade urgente de pôr fim à exploração secular dos recursos naturais da África, que tem alimentado conflitos e miséria no continente. Ele destacou que a África detém 60% dos melhores recursos solares globais e cerca de um terço dos minerais cruciais para a revolução das energias renováveis. No entanto, o continente possui apenas 1,5% da capacidade solar instalada globalmente e aproximadamente 600 milhões de africanos ainda vivem sem acesso à energia elétrica.
O chefe das Nações Unidas alertou que países e comunidades africanas estão sendo “empurrados para o fundo da cadeia de valor de minerais essenciais, enquanto outros se aproveitam desses recursos”. Guterres instou países e empresas a seguir as recomendações do Painel da ONU sobre Minerais Críticos para a Transição Energética, com o objetivo de garantir direitos humanos, justiça e equidade em toda a cadeia de valor, maximizando os benefícios para os países africanos.
Legado do Colonialismo e a Urgência das Reparações
Guterres enfatizou que a forma como a extração de recursos ocorre atualmente é uma manifestação direta da exploração colonialista passada, que precisa ser combatida. Ele salientou as “injustiças colossais” causadas pela escravidão, o tráfico transatlântico de escravos e o colonialismo, que por muito tempo foram ignoradas e continuam a gerar “distorções”. O líder da ONU afirmou que, ao conquistar a independência, os países africanos “herdaram um sistema construído para servir aos outros, não a si mesmos”, e que “a longa sombra do colonialismo” ainda pode ser sentida nos desafios atuais do continente.
Para corrigir esses “erros históricos”, Guterres defendeu que medidas de justiça reparatória são cruciais para enfrentar os desafios atuais e garantir os direitos e a dignidade de todos. Ele defendeu a participação das comunidades afetadas para alcançar a responsabilização e a reparação.
Parcerias Igualitárias e Representação Africana Global
O secretário-geral da ONU defendeu que a comunidade internacional precisa agir com “honestidade e justiça” para transformar os legados da escravidão e do colonialismo em parcerias igualitárias e respeitosas. Essa transformação deve garantir que as nações africanas “ocupem o seu devido lugar na tomada de decisões globais” e que todos os africanos, incluindo a diáspora, tenham a oportunidade de prosperar.
Mesmo em um cenário global “turbulento”, com barreiras comerciais e cortes na assistência humanitária, Guterres reiterou a necessidade de continuar lutando por uma representação justa nas instituições internacionais, incluindo uma representação africana permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele também pediu “compromissos concretos” para reduzir as dívidas externas, reestruturar contas e evitar novas crises nos países africanos.
Com informações de ONU News
Wagner Sales – editor de conteúdo
Foto: Radio Okapi / RDC