Rio – O governo do estado divulgou um balanço da terceira etapa daOperação Maré, iniciada nas primeiras horas desta quarta-feira (11/10). Policiais das forças estaduais apreenderam, até o meio-dia, seis fuzis – cinco no Chapadão e um na Cidade Alta – e três pistolas no Complexo da Maré. Foram realizadas também 12 prisões, sendo seis no Complexo do Chapadão, 3 no Complexo da Maré e 3 no Parque das Missões, em Duque de Caxias. E mais de três toneladas de barricadas foram retiradas em 17 pontos do Complexo da Maré e três veículos, recuperados em Duque de Caxias.
As equipes ocuparam comunidades da Cidade Alta, Cinco Bocas, Pica Pau, Complexo do Chapadão e cinco pontos do Complexo da Maré, todas na Zona Norte do Rio, além do Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Esta fase tem como foco a prisão de criminosos que fugiram para outras comunidades, o cumprimento de mandados de prisão e a retomada de territórios.
– O trabalho das nossas forças de segurança está focado em desarticular essas máfias e é incansável. Somente hoje, foram detidas 12 pessoas que estavam cometendo diversos atos criminosos na capital e Baixada Fluminense, com efeitos em toda a população. O prejuízo causado a essas organizações já chegou à casa de R$ 20 milhões. São efeitos claros de que o uso da inteligência aliado à tecnologia é o caminho mais eficiente para enfraquecer a atuação desses grupos – afirmou o governador Cláudio Castro.
Prejuízos
Desde segunda-feira (9/10), a Operação Maré já causou prejuízos de mais de R$ 20 milhões aos criminosos. Foi descoberto e fechado um laboratório de refino de drogas, um depósito de medicamentos, entorpecentes e material para preparo. Ao todo, 24 pessoas foram presas, 101 veículos – entre carros e motos – apreendidos e 42 toneladas de barricadas retiradas do Complexo da Maré. Na terça (10/10), o Governo do Estado recuperou o acesso da comunidade da Maré à piscina do Complexo Esportivo.
As forças de segurança apreenderam, nos últimos três dias, 100 quilos de pasta base de cocaína (descobertos num galpão próximo à Vila Cruzeiro), mais de meia tonelada de maconha e drogas sintéticas em diversos pontos, uma plantação de skunk num imóvel de dois andares na Vila do João e duas estufas de maconha na Maré. Em relação ao armamento apreendido, o total foi de 13 fuzis, dois simulacros de arma de fogo, cinco pistolas, dezenas de artefatos explosivos e diversos rádios comunicadores.
A Operação Maré é a maior já realizada com uso de tecnologia, aliado à inteligência e investigação. Equipamentos como drones com câmeras que fazem mapeamento de áreas em 3D e uma câmera com zoom de longo alcance são utilizados e têm capacidade de reconhecimento facial e identificação de placas de veículos.
O outro lado das operações
As operações policiais nas comunidades têm um lado perverso, de prejuízos e deseducação para milhares de famílias que veem seus filhos sem poderem ir à escola e o comércio fechar as portas. Reportagem publicada pelo periódico digital Maré Notícias mostra o outro lado dessas operações.
Reproduzimos um trecho da matéria publicada na última segunda-feira (9/10): O Censo de Empreendimentos da Maré de 2014 mostra que nas favelas da Maré há mais de 3 mil empreendimentos da área de serviço e que são responsáveis por gerar emprego e renda para mais de 9 mil pessoas com mais de 15 anos de idade. “Acontece a operação, aí a consulta é adiada, aí tu vais levar mais não sei quanto tempo. As escolas fecham, as crianças, coitadas das crianças, ficam sem aula. Pelo menos a gente já está acostumado com a rotina, com o dia a dia. E tendo a operação, vai adiantar o quê? Eles vão botar cursos gratuitos para o povo? Eles vão ver emprego pro povo? Eles não vão trazer nada de benefício,” desabafa uma comerciante da Maré.
A moradora, que preferiu não se identificar, também relatou os impactos das operações no cotidiano dos comerciantes locais: “O comércio fechado, a gente deixa de ganhar, a gente tem conta pra pagar. Quem tem o seu comércio próprio, que vive daquilo, vai atrasar as contas, vai atrasar a dívida, vai piorar a vida das crianças, vai piorar a vida da saúde, vai piorar tudo. E o dinheiro que é investido? Você acha que vai 100% para educação? 100% pra alguma coisa? E ninguém tá pedindo nada, o morador não tá pedindo nada.”
Paulo César Ramos Justino, de 43 anos, morador da Vila do Pinheiro destaca os desafios para acesso a empregos fixos para moradores de favelas. “Eu tô há 8 meses parado fazendo o bico no caso, mas não tô com minha carteira assinada, porque eu coloquei meu currículo numa empresa e eu senti que essa empresa não me chamou porque eu moro em comunidade, porque a qualquer hora pode ter operação e o funcionário tem que faltar 2, 3 dias. Então, assim, como é que você entra numa empresa, já de início você vai faltar 3 dias? Na verdade, pra sociedade a gente é invisível. Todas as pessoas que moram em favela, comunidade, são invisíveis para a sociedade”.
Com assessoria / Maré Notícias
Wagner Sales – Editor de Conteúdo