Há uma linha tênue, porém significativa, entre partidarismo e politização, e essa distinção é crucial para compreendermos a importância de termos mulheres atuantes na política, para além do simples cumprimento de cotas. Enquanto o partidarismo está associado à lealdade ou defesa de um partido político específico, geralmente com uma visão polarizada e restrita, a politização se refere ao engajamento consciente e ativo no debate político, com uma perspectiva ampla sobre os interesses da sociedade como um todo.
Embora as cotas de gênero tenham sido importantes para garantir um espaço formal para as mulheres nas estruturas partidárias, o que temos presenciado é, em muitos casos, uma ocupação superficial desse espaço. Mulheres que entram para compor números e preencher exigências, mas que, na prática, não têm suas vozes realmente ouvidas ou seus potenciais explorados. Isso reflete a resistência cultural e institucional à verdadeira inclusão das mulheres no jogo político.
A presença feminina na política não pode ser encarada como mera formalidade ou questão de estatísticas. O espaço político precisa de mulheres que estejam realmente politizadas, que compreendam as dinâmicas sociais e estejam dispostas a atuar como protagonistas de mudanças estruturais. Elas precisam não só representar o gênero, mas também liderar discussões de impacto social, econômico e cultural com a mesma força e preparo que qualquer outro ator político.
A politização das mulheres exige que elas transcendam os rótulos partidários e foquem em questões de cunho social que afetam diretamente suas vidas e as de milhões de outras mulheres. A discussão sobre saúde, educação, violência de gênero, maternidade, economia solidária, empreendedorismo feminino e tantas outras pautas urgentes precisa vir de mulheres que têm posição e que sabem que sua presença na política vai além de estar lá por cotas. A verdadeira mudança vem quando essas mulheres se tornam líderes engajadas, agentes de transformação.
É necessário, portanto, garantir não apenas a presença, mas o fortalecimento das mulheres na política. Isso significa oferecer formação, apoio, e, acima de tudo, criar um ambiente em que elas possam se posicionar com autonomia e assertividade, sem serem limitadas a papeis decorativos ou marginais.
A representatividade é importante, mas sem politização real, ela se esvazia e se torna uma mera questão quantitativa. Não queremos mais mulheres na política apenas para encher a quota exigida. Queremos mulheres que sejam líderes, estrategistas, ativistas. Queremos mulheres que representem, de fato, uma sociedade mais justa e igualitária.
Portanto, é fundamental a construção de uma política que não apenas aceita, mas incentiva e promove a verdadeira inserção das mulheres como protagonistas. O Brasil precisa de mais mulheres na política, não como números ou símbolos, mas como agentes de transformação, movidas pela politização e pelo desejo genuíno de mudar a realidade que afeta milhões de brasileiras.
Como crítica social, e me arriscando a filosofar em uma era em que o simples e o básico parecem suficientes, decidi agir além das palavras, para atuar de forma eficaz e transformadora. Estou desenvolvendo um curso de capacitação para as eleições de 2026, com o objetivo de orientar os partidos políticos sobre a necessidade urgente de implementar ações concretas para o fim da violência de gênero. Além disso, o curso visa qualificar mulheres, indo desde os fundamentos do comportamento humano até a autoanálise que leva a mulher a buscar seu espaço na política.
Essa formação também abordará estatísticas, legislação, e as consequências da omissão – tanto da sociedade quanto das próprias mulheres – em relação à política. A presença de mulheres comprometidas não é apenas desejável, é vital. A omissão gera um ciclo de invisibilidade, onde as pautas femininas são marginalizadas e o potencial transformador das mulheres na política é subestimado.
O universo feminino precisa, e merece, ser representado por mulheres que superaram os revanchismos do passado, que são capazes de discutir, liderar e transformar, sem se limitar a velhas disputas ou ao simples cumprimento de cotas. É hora de garantir que as mulheres estejam verdadeiramente preparadas e politizadas para atuar como protagonistas nas decisões que moldam a nossa sociedade.
Estamos falando de ações concretas e de qualificação profunda, pois o simples preenchimento de números não é suficiente para gerar mudanças reais. As mulheres na política devem ser agentes de transformação, conscientes de suas responsabilidades e preparadas para enfrentar os desafios de um cenário político ainda muito desigual.
A representatividade só tem sentido se for acompanhada de uma atuação ativa, competente e politicamente engajada. E para isso, a preparação e a capacitação das mulheres são fundamentais. Em 2026, não queremos apenas mais números de mulheres nas urnas – queremos mais mulheres, pois ainda reduzidas, em capacidade de liderar e mudar a política brasileira para melhor.