Por: Jorge Eduardo Magalhães
Pela janela olhava a quadra da escola de samba em frente à sua casa. Estava quase na hora de sair com a mãe para ir ao culto. Não queria ir, mas tinha que acompanhar a mãe, evangélica fanática, pois caso recusasse a mãe chegava até a dizer que estava com o diabo no corpo.
Não aguentava mais aquela saia que tampava até a canela aquela blusa de mangas compridas que era obrigada a usar em pleno verão de quarenta graus, seus cabelos compridos até a cintura e nenhuma maquiagem, pois a sua religião proibia de usar.
Pela janela pensava em sua vida, no mês que vem faria quarenta anos, nunca tivera um homem em sua vida, vivera a vida inteira em função da mãe controladora e fanática religiosa que de sempre lhe jogava na cara o fato de nunca ter casado e nem ter lhe dado netos. Não queria nenhum namorado da igreja fanático, bitolado. Pela janela esperava aparecer na quadra da escola de samba aquela homem alto, negro, bonito com a camisa da diretoria da agremiação.
Sonhava em desfilar na avenida ao som do samba enredo empolgante junto com seu amado que nem sabia o nome.
Foi despertada de seu devaneio por sua mãe que disse estarem atrasadas para o culto. Pela janela viu seu amado entrando na quadra. Pensou em dizer não à sua mãe, em dizer que não queria mais aquela vida. Pensou em ir à escola de samba e perguntar como fazia para desfilar. Mas, ficou entalado em sua garganta, não teve coragem de falar. Fechou a janela e saiu com a mãe para ir ao culto.
Acessem meu blog: http://jemagalhaes.blogspot.com
Adquiram meu livro UMA JANELA PARA EUCLIDES
editorapatua.com.br/uma-janela-para-euclides-dramaturgia-de-jorge-eduardo-magalhaes/p
Que triste! Mas bem realista! 👏👏👏👏