Maricá se consolida como referência internacional no cenário de governos locais com a eleição do prefeito Washington Quaquá para a presidência da Associação de Cidades e Municípios dos BRICS+. A escolha ocorreu na Assembleia Geral da entidade, realizada em Maricá nesta terça-feira (27), reunindo delegações de 26 países para debater desenvolvimento urbano, sustentabilidade, juventude, equidade de gênero e cooperação intermunicipal.
Quaquá sucede o prefeito de Kazan, na Rússia, Ilsur Metshin, que conduziu a associação desde sua fundação em junho de 2024. “Agradeço ao meu colega russo… Recebo essa missão com orgulho e senso de responsabilidade. Temos um novo mundo a construir, com as cidades no centro dessa transformação”, afirmou Quaquá, que também preside a Associação Brasileira de Municípios (AMB).
Ilsur Metshin elogiou Quaquá: “É um dos líderes de uma Nação forte que está se tornando protagonista no cenário internacional. Temos certeza de que, sob sua liderança, a Associação irá crescer e se tornar uma organização influente nos fóruns e organismos multilaterais.”
A abertura do evento contou com a presença de Ana Lucia Reis Melena (prefeita de Cobija e presidente da Flacma), Eduardo Paes (prefeito do Rio de Janeiro e presidente da Frente Nacional de Prefeitos – FNP) e representantes da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Diversos acordos de cooperação internacional foram assinados.
Cidades na Nova Ordem Mundial e Financiamento Direto
O prefeito Quaquá destacou em seu discurso que as cidades são protagonistas na construção de uma nova ordem mundial: “Vivemos um momento histórico em que uma velha ordem mundial… está chegando ao fim. Estamos testemunhando o nascimento de uma nova era: mais justa, multipolar, aberta e respeitosa… Essa nova ordem será construída nas cidades, onde a vida real acontece.”
A Associação de Cidades e Municípios dos BRICS+ foi criada para consolidar a cooperação técnica entre governos locais dos países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de nações associadas como Irã, Etiópia e Indonésia. O objetivo é articular o acesso direto a instrumentos multilaterais de financiamento e fomentar o intercâmbio de boas práticas na gestão urbana.
Um dos principais consensos do Fórum de Maricá foi a necessidade de reconfigurar a arquitetura financeira dos BRICS, permitindo que instrumentos como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) sejam acessíveis diretamente pelos municípios, e não apenas pelos governos nacionais. Desde 2015, o NDB aprovou mais de US$ 35 bilhões em financiamentos, mas os recursos majoritariamente exigem garantias soberanas.
O prefeito de Kazan defende a criação de consórcios intermunicipais para gerar economias de escala e reduzir riscos, viabilizando a contratação de crédito internacional com maior segurança. A proposta visa permitir que municípios desenvolvam projetos de impacto local com escala global, especialmente em áreas como mobilidade urbana, gestão de resíduos, habitação social e políticas culturais que impulsionem a economia criativa.
Adaptação Climática e Protagonismo Municipal
Outro eixo central da nova presidência de Quaquá será o fortalecimento das ações de adaptação climática. Um relatório do Banco Mundial aponta que para cada dólar investido em resiliência climática urbana, economiza-se até sete dólares em custos futuros. “É fundamental investir na adaptação climática como prioridade estratégica dos BRICS, com foco na atuação municipal. É uma das pautas que pretendemos reforçar na COP30”, destacou Quaquá.
Eduardo Paes, prefeito do Rio, reforçou: “O mundo de hoje gira em torno das cidades, onde as pessoas vivem, ocorrem as grandes transformações e onde se materializam os compromissos internacionais. As soluções para os desafios climáticos e sociais passam, necessariamente, pela atuação dos prefeitos e pelo fortalecimento da governança local.”
A presença de representantes da Presidência da República reforçou o apoio institucional ao protagonismo municipal. Gustavo Ponce, secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, afirmou: “Tradicionalmente, se imaginava que as relações internacionais eram feitas apenas para os interesses de Estado. No entanto, precisamos entender que os grandes desafios que enfrentamos acontecem nas cidades.”
Com a nova presidência, Washington Quaquá inicia um ciclo que promete ampliar a presença e a voz dos municípios do BRICS+ na cena internacional. Para ele, “as cidades vão mudar o mundo. E nós estamos na liderança dessa revolução”.
Com informações de Fátima França
Wagner Sales – editor de conteúdo
Foto: Bender Arruda