Reflexões sobre (ir)responsabilidade social

A não aceitação da responsabilidade é um mecanismo que afasta o indivíduo ou a instituição da autocrítica e da reparação de erros, promovendo a manutenção de ciclos de opressão, submissão e subjugo. Quando alguém se recusa a reconhecer suas falhas ou responsabilidades, transfere as consequências de suas ações para outros, muitas vezes os mais vulneráveis. Esse comportamento perpetua relações de dominação, nas quais quem detém poder não só se exime de accountability, mas também impõe aos outros as consequências de suas omissões ou abusos.

Ao não aceitar a responsabilidade, cria-se um espaço de negação que justifica o controle sobre os demais. Aqueles que estão subordinados, sem voz ou mecanismos de defesa, são frequentemente obrigados a suportar as cargas emocionais, financeiras e sociais deixadas por essa falta de responsabilização. Em termos de sociedade, isso se reflete em sistemas de opressão, nos quais grupos marginalizados continuam a ser explorados e silenciados, pois as elites ou instituições se recusam a reconhecer e corrigir suas injustiças.

Além disso, a não aceitação da responsabilidade impede o desenvolvimento de uma cultura de justiça e equidade. Ela rebaixa os valores éticos e morais, ao desincentivar a transparência e a responsabilização mútua. Como consequência, instala-se o subjugo, onde o poder é exercido não em função do bem comum, mas para preservar privilégios à custa da liberdade e dignidade de outros.

A distinção entre a justiça de proteção e a justiça voltada ao protecionismo é crucial para compreender como a não aceitação da responsabilidade pode gerar dinâmicas de submissão e subjugo. A justiça de proteção visa garantir os direitos fundamentais e a dignidade de todos os indivíduos, principalmente daqueles em situação de vulnerabilidade, agindo como uma força equilibradora que corrige abusos e oferece amparo frente a injustiças. Já a justiça protecionista é distorcida, pois, em vez de proteger os mais fracos, atua em favor da preservação de privilégios e interesses de um grupo dominante, muitas vezes camuflando essa parcialidade sob o pretexto de segurança ou estabilidade.

Quando se recusa a aceitar responsabilidades, o indivíduo ou a instituição tende a buscar uma forma de protecionismo que o isenta de consequências, mantendo-se intocável e inquestionável. Isso leva a um sistema de justiça que protege os poderosos, enquanto submete os mais frágeis a um ciclo de exploração e silenciamento. A justiça protecionista não está preocupada com a reparação de danos ou com a defesa de direitos, mas com a manutenção de estruturas de poder e a perpetuação de privilégios, criando um ambiente de desigualdade legal e moral.

Por outro lado, a justiça de proteção, que é genuína e equitativa, busca responsabilizar aqueles que falham em seus deveres, sem discriminação. Ela se fundamenta em princípios éticos e universais que visam corrigir assimetrias de poder, proporcionando segurança e dignidade a quem necessita de amparo. Nesse contexto, a aceitação da responsabilidade é um ato fundamental, pois é através dela que o equilíbrio pode ser restaurado, garantindo que aqueles que sofrem opressão sejam libertados de dinâmicas de controle e submissão.

Assim, a diferença entre a justiça de proteção e a justiça protecionista revela como a responsabilidade, ou a falta dela, pode moldar o destino de indivíduos e grupos inteiros, perpetuando o subjugo em vez de promover a justiça verdadeira e inclusiva

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