Por: Jorge Eduardo Magalhães
Foi numa troca de tiros em uma favela que executei um bandido que atirou contra nossa guarnição. Quando a munição acabou, ele se rendeu, mesmo assim, acabei com a vida do maldito por ter trocado tiros conosco. Ficou combinado na guarnição que diríamos que o meliante teria sido morto por um tiro vindo do interior da favela e que não havíamos conseguido identificar o autor dos disparos.
Mais tarde, no alojamento do batalhão, sargento Gouveia, comandante da guarnição, disse que poderia me entregar, que execução era crime grave, que eu poderia ser expulso da polícia, ser preso, mas que não queria fazer isso. Por isso, eu lhe devia alguns favores. Inicialmente, pediu para eu negociar a droga apreendida com traficantes da favela rival. Tentei me recusar, mas não tinha jeito o sargento poderia me entregar a qualquer momento. Fiz o combinado. Negociei a droga, entreguei o dinheiro ao Gouveia e ele disse que parte de seu silêncio estava pago. Assumo que estava errado, mas era inexperiente na época. O silêncio de Gouveia se estendeu a outros favores. No último, ele marcou um encontro em um lugar ermo para lhe entregar o dinheiro. Achei que ele fosse me eliminar como queima de arquivo. Antes de entregar o dinheiro, tive um mau pressentimento e disparei vários tiros à queima roupa. Gouveia caiu morto. Esvaziei seus bolsos que tinham algum dinheiro e joguei seu corpo em um barranco ali mesmo que dava em um matagal.
No outro dia estava de serviço estremeci quando um cabo me disse que o Gouveia havia faltado o serviço. Será que ele sabia de algo? Não, nunca irão achar o seu corpo.
Mais de um mês depois seu corpo foi encontrado já em estado de decomposição. Fiquei apavorado. Tinha a impressão de que sabiam que eu era o assassino.
Um dia, quando cheguei ao batalhão, quase me entreguei quando vieram me dizer que haviam descoberto o assassino do sargento, pensei em chorar, dizer que estava sendo acuado. O assassino era um traficante em represália às apreensões que nossa guarnição havia feito.
O Gouveia foi homenageado com honras de herói e nossa guarnição condecorada. Algum tempo depois fui promovido a sargento e comandei minha própria guarnição.
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Bem realista… Cada um visando seus próprios interesses!
Excelente estória,dois pelo preço de um.