Imaginem por um momento um Brasil diferente. Um Brasil em que Silvio Santos, o icônico apresentador de televisão, cuja imagem sempre foi associada ao sucesso, à alegria e ao entretenimento, fosse negro. Um Brasil em que Ayrton Senna, nosso amado piloto de Fórmula 1, e símbolo de superação, tivesse sua trajetória envolta em uma pele que refletisse na cor um legado de resistência e dor. Será que, nesta nova narrativa, conseguiríamos entender melhor o racismo estrutural que permeia nossa sociedade?
Silvio Santos, com seu jeito carismático e seu inconfundível sorriso, sempre foi visto como um “homem do povo”, um ícone da cultura popular brasileira. Mas e se ele fosse negro? Será que o mesmo carinho e admiração que sempre recebeu se manteriam? A verdade é que, em uma sociedade marcada pelo racismo estrutural, a resposta provavelmente seria não. Isso nos leva a refletir: por que a cor da pele de uma pessoa ainda define seu lugar na sociedade, sua dignidade e suas oportunidades?
Ayrton Senna, por outro lado, foi mais do que um piloto; ele era um símbolo de um Brasil que sonhava grande e se orgulhava dos seus ícones. Mas, se ele fosse negro, muitos se perguntariam: teria recebido o mesmo patrocínio? Teria conquistado o mesmo reconhecimento internacional? O racismo estrutural é insidioso; ele não se manifesta apenas em atos abertos de discriminação, mas se infiltra nas oportunidades que são oferecidas, na forma como os talentos são reconhecidos e valorizados.
Esses questionamentos nos levam a uma reflexão profunda sobre como a sociedade percebe e trata as pessoas negras. Quando pensamos em Silvio Santos e Ayrton Senna fora dos padrões que a sociedade dita, é impossível não perceber como a cor da pele torna-se um filtro que altera a forma como vemos e entendemos o mundo. Em outras palavras, mesmo os mais talentosos, os mais carismáticos e os mais admirados enfrentariam barreiras que são irreais para outros com a pele clara.
Se Silvio Santos fosse negro, seus programas de auditório teriam o mesmo apelo? Ele seria convidado a atuar em eventos de grande visibilidade? Teríamos visto sua figura constante na mídia, ou ele seria apenas mais um talento perdido? O mesmo vale para Senna: seria ele lembrado da mesma forma, ou sua trajetória seria marcada pela desconexão e pela falta de espaço em um ambiente predominantemente branco?
Essas perguntas nos obrigam a olhar para o racismo estrutural de uma maneira que vai além do óbvio — para entender que ele está enraizado em nossa cultura, em nossas instituições, e, mais importante, em nossa percepção. É uma realidade que precisa ser abordada em casos hipotéticos, como o de Silvio Santos e Ayrton Senna, para que possamos realmente compreender o impacto que a cor da pele continua a ter na vida dos brasileiros.
Portanto, ao imaginar um mundo onde Silvio Santos e Ayrton Senna tivessem suas cores de pele mudadas, somos confrontados com verdades incômodas sobre o racismo estrutural que visto em cada aspecto de nossa sociedade. E é nossa responsabilidade, enquanto sociedade, reconhecer esses padrões e lutar ativamente pela mudança, não apenas celebrando os talentos que temos, mas assegurando que todos tenham a oportunidade de brilhar, independentemente de sua cor. Somente assim poderemos sonhar em construir um Brasil verdadeiramente igualitário.
Denilson Costa